Título: 'Queremos vender gás, mas a preços mais altos'
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

Ao mesmo tempo em que trabalha para pôr em prática a nacionalização das reservas de petróleo e gás, o governo boliviano iniciou uma ofensiva para aumentar o preço do gás que vende ao Brasil. A Petrobrás já foi informada de que a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPFB) pretende reabrir a revisão periódica dos preços, que foi suspensa a pedido dos bolivianos.

Para pressionar as negociações, o ministro dos Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Radas, declarou esta semana que sem reajuste de preços não haverá aumento das exportações do combustível, necessárias para evitar problemas de suprimento a partir de 2008. "Queremos vender mais gás, mas a preços maiores", afirmou o ministro.

O contrato de venda para o Brasil, que dura até 2019, prevê períodos de revisão dos preços, para que as condições sejam adequadas a mudanças bruscas de cenário. De acordo com o presidente da Petrobrás Bolívia, José Fernando de Freitas, a última revisão ocorreu em 2004, cinco anos após o início das importações. "Mas as negociações foram suspensas pelo próprio governo da Bolívia, quando percebeu que o preço poderia cair", disse.

O gás boliviano é entregue à Petrobrás, na fronteira, a US$ 3,2 por milhão de pés cúbicos. Soliz não quis informar qual seria o valor ideal, mas disse que o Chile, por exemplo, planeja importar gás liquefeito a preços entre US$ 7 e US$ 9 por milhão de pés cúbicos. "Se não houver aumentos, não haverá novos volumes", reforçou.

As declarações foram feitas três dias depois de a Transportadora Brasileira do Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) informar que cinco empresas querem importar mais 36 milhões de m 3 por dia da Bolívia, no processo de ampliação da tubulação inaugurada em 1999. O gasoduto pode transportar 30 milhões de m3 por dia, mas deverá ser ampliado. Pelos resultados dos leilões de energia elétrica realizados pelo governo, estima-se que a geração térmica a gás terá importante papel no setor energético brasileiro.

As negociações sobre os preços fazem parte da primeira etapa de ajustes que o governo Evo Morales pretende fazer antes de iniciar a discussão dos novos contratos. O governo boliviano quer cobrar ainda mais de US$ 500 milhões da Petrobrás, a título de diferenças no recolhimento de impostos e nos preços do gás já pago mas não consumido.