Título: Colchão contra crise tem R$ 200 bi
Autor: Adriana Fernandes e Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

O Tesouro Nacional fez um caixa extra de R$ 200 bilhões para enfrentar eventuais turbulências na economia, especialmente neste ano de eleições. Chamado de "colchão de liquidez", esses recursos são uma reserva que permite ao governo pagar os títulos que estão vencendo, sem que seja preciso fazer leilões de venda de novos papéis. O valor aproximado do colchão foi revelado ontem durante a divulgação dos dados sobre a dívida interna em títulos.

Segundo o coordenador-geral da dívida pública, Ronnie Tavares, o "colchão de liquidez" tem hoje um volume de recursos suficientes para garantir o pagamento de praticamente todos os títulos da dívida interna e externa que vencem nos próximos cinco meses.

De acordo com os dados divulgados ontem pelo Tesouro, vencem nesse período R$ 178,42 bilhões em títulos da dívida interna e mais R$ 21,9 bilhões de compromissos com a dívida externa. Em 2005 e no ano eleitoral de 2002, os recursos no caixa do Tesouro faziam frente a vencimentos de "três a quatro meses". Por causa do nervosismo na crise de 2002, o governo consumiu parte importante desse caixa e desde então trabalha pela sua recomposição e, agora, ampliação.

"O Tesouro aumentou o seu colchão de liquidez, preparando-se para um período que pode ser de maior volatilidade", disse Tavares. "Embora nós - e também os analistas de mercado - não acreditemos que o que aconteceu em 2002 se repetirá, alguma volatilidade no período eleitoral é natural."

Segundo o economista-chefe do Banco BVA, Júlio Cardoso, ter um colchão de liquidez desse tamanho "parece um zelo, um conservadorismo exacerbado". Ele argumenta que a manutenção de um caixa volumoso tem custo, que é a taxa de juros dos títulos emitidos.

Para Cardoso, que vê com tranqüilidade o cenário eleitoral, o maior risco é uma piora no âmbito externo, com redução da oferta de dinheiro. Mesmo assim, um caixa para cinco meses não parece razoável, afirma ele. "Mesmo em 2002, quando houve uma crise muito grave, o Tesouro não ficou mais de um mês sem captar", observou. "É evidente que o caixa para um mês é pouco, mas para cinco meses parece muita coisa".

Cardoso ressaltou, por outro lado, que este aumento pode ser uma estratégia semelhante à adotada na gestão da dívida externa, em que, aproveitando o bom momento do mercado, o Tesouro antecipou captações para fazer frente a vencimentos até 2007.