Título: Isenção anima investidor externo
Autor: Adriana Fernandes e Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

Animados pela isenção do Imposto de Renda para aplicação em títulos públicos, os investidores estrangeiros estão comprando mais papéis da dívida interna brasileira. Em fevereiro e março, eles ficaram com 57% dos títulos de longo prazo, com vencimento acima de dez anos, oferecidos pelo Tesouro Nacional. Considerando também os papéis de curto prazo, as aquisições somaram R$ 8,5 bilhões, ou 20% do total.

O balanço foi divulgado ontem, junto com o resultado da dívida em títulos do governo federal. Em março, ela atingiu R$ 1,021 trilhão. De janeiro a março, o estoque já aumentou R$ 41,56 bilhões. A maior parte desse crescimento - R$ 36,86 bilhões - foi decorrente do impacto dos juros no estoque da dívida. O restante foi provocado pelo lançamento de novos títulos. Somente em março o endividamento do governo aumentou R$ 11 bilhões, com alta de 1,1% sobre o estoque de R$ 1,010 trilhão de fevereiro.

A dívida só não cresceu mais porque, apesar do impacto dos juros ter sido de R$ 14,1 bilhões, o Tesouro emitiu R$ 3,1 bilhões a menos do que os títulos que venceram no mês. Isso ocorreu porque a administração da dívida em março foi atrapalhada pelo nervosismo do mercado na segunda quinzena, por causa da alta no juro de longo prazo americano e pelas mudanças de comando no Ministério da Fazenda. Segundo o coordenador-geral da Dívida Pública, Ronnie Tavares, a volatilidade fez com que o Tesouro cancelasse o último leilão de títulos do mês.

Tavares afirmou que o aumento da dívida em março não foi "nada de anormal". O que ele destacou foi a continuação da melhora no perfil do endividamento, sobretudo as maiores participações de títulos com remuneração prefixada - definida no momento da venda dos papéis - e atrelados a índices de preços, justamente os preferidos dos estrangeiros.

Por outro lado, a parcela de títulos atrelados à taxa Selic (preferidos em momentos de nervosismo) atingiu o menor nível da série iniciada em 1999: 45,64%. Esse número não considera as operações de swap cambial, em que o BC fica devedor em Selic e credor em variação do dólar. Quando se consideram essas operações, a parcela atrelada à Selic atinge 49,55%. A participação de papéis prefixados subiu de 27,88% em fevereiro para 28,75% da dívida em março, enquanto os títulos vinculados a índices de preços aumentaram de 20,46% para 21,23%, na mesma base de comparação.

Além de melhorar o perfil da dívida, o forte apetite dos estrangeiros pelos títulos com vencimento maior e atrelados a índices de preços tem ajudado a reduzir os juros que o governo paga para vender os seus papéis. Segundo Tavares, a taxa das NTN-B (corrigidas pelo IPCA) com vencimento em 2045 caiu de 8,54%, em janeiro, para 7,5% em março.