Título: Shopping foi o primeiro compromisso após o convite
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

Às 11 horas da segunda-feira, Guido Mantega havia acabado de se despedir de um grupo de empresários do grupo Suzano, na sede paulista do BNDES, e se preparava para receber diretores do Banco Santander quando recebeu um telefonema do Palácio do Planalto. Um assessor o informou que o presidente o estava chamando a Brasília.

Lula estava, no momento, em Curitiba e marcou o encontro para às 15 horas no Planalto. Ao chegar, Mantega foi informado pelos ministros Jaques Wagner e Dilma Rousseff que seria o substituto de Palocci. Mas ficou quieto. Não comentou a informação nem com assessores diretos. Já era noite quando a nomeação foi anunciada pelo porta-voz da Presidência, André Singer.

A primeira providência de Mantega ao chegar ao posto mais alto que um economista do governo pode almejar foi ir ao shopping. Acompanhado por assessores, ele foi ao Conjunto Nacional, no centro da capital, e comprou camisas, roupas de baixo e uma gravata. A posse seria no dia seguinte e ele havia chegado a Brasília só com a roupa do corpo.

Terça-feira, antes mesmo de ser empossado, Mantega ligou para Carlos Kawall e o convidou para ser secretário do Tesouro Nacional. O economista, que ocupava a diretoria de Finanças, Administrativa e de Mercado de Capitais do BNDES, ficou de pensar. Ele já havia transferido a família de São Paulo para o Rio em 2005 e não queria fazer outra mudança. Kawall veio a Brasília ainda terça-feira, para assistir à posse, com os demais diretores do banco. O grupo almoçou no Hotel Meliá. Mantega e Kawall sentaram-se em uma mesa separada e o ministro tentou dobrar as resistências do assistente. Ele, porém, só iria concordar em assumir o posto na tarde de quinta-feira, meia hora antes de Mantega anunciar seu nome e o de Bernard Appy.

Após a posse, Mantega voltou para o Rio de Janeiro, onde acertou as últimas pendências no BNDES e se despediu dos funcionários do banco. No comando da instituição, ele deixou o vice-presidente Demian Fiocca, uma pessoa de sua total confiança que integrara sua equipe no Planejamento.