Título: Carga e juros altos inibem os investimentos, diz Martus
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Economia & Negócios, p. B3

Ex-ministro de FHC vai para a Fiesp e prega agenda para reduzir entraves

Depois de atuar vários anos no setor público, o economista Martus Tavares sabe dizer com propriedade que a combinação de juros elevados e carga tributária exorbitante pode ser um veneno para o desenvolvimento econômico. "Os dois componentes são inibidores de investimentos e limitadores do crescimento econômico. Por isso, precisam fazer parte de uma agenda de trabalho que consiga reduzir esses níveis de forma consistente e responsável", afirmou o ex-ministro de Planejamento no governo Fernando Henrique, entre 1999 e 2002, que a partir desta semana vai experimentar o outro lado da moeda.

Tavares deixou, sexta-feira, a Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, onde estava desde fevereiro do ano passado e vinha ajudando a coordenar um pacote de projetos prioritários para o pré-programa eleitoral de Geraldo Alckmin. Agora ele vai ocupar a cadeira de vice-presidente-executivo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). No novo cargo, vai defender os interesses privados e será responsável pela gestão técnica da entidade. "A Fiesp tem uma capacidade enorme de negociar e discutir inúmeros temas. Precisamos dar mais musculatura e ampliar a capacidade de resposta dos trabalhos. Vou acelerar a eficiência da entidade", afirmou.

Vários temas estão na agenda de trabalho da Fiesp, que tem sido uma crítica ferrenha à política conservadora de redução do juro básico e ao aumento incessante da carga tributária. "Numa trajetória de longo prazo, o País está bem. Mas há uma agenda de trabalho, com uma série de reformas para reduzir os juros de forma consistente, que não tem sido cumprida."

Além disso, o ex-ministro afirmou que alguns temas serão focos de maior atenção este ano, como a aprovação da Lei Geral das Pequenas e Microempresas e a Lei do Gás. "São trabalhos que não foram concluídos e estão no topo da agenda prioritária da Fiesp."

Outro foco são as Parcerias Público-Privadas (PPPs) federais. "Já podíamos ter avançado mais. A lei foi aprovada há cerca de um ano e até agora não temos nenhum projeto na rua."

O economista participou da equipe responsável pela estruturação da primeira operação de PPP no Brasil: a Linha 4 do Metrô, do Governo do Estado de São Paulo, cujo edital já está no mercado. Para ele, trata-se de uma importante ferramenta para suprir a necessidade de investimentos na infra-estrutura, levando em consideração o resultado excepcional do comércio exterior nos últimos anos. "É uma área de alta preocupação. Quando olhamos para as finanças dos governos federais e estaduais, nos damos conta de que o Estado não vai conseguir gerar recursos suficientes para fazer todos os investimentos. Por isso, as parcerias são imprescindíveis."

Tavares acredita que é possível avançar nos projetos federais este ano, mesmo com o calendário eleitoral. "Temos no Brasil uma cultura que não é a melhor forma de pensar. Não podemos parar só porque é um ano eleitoral. A vida continua."

Em relação à turbulência política que chacoalhou o País semana passada, com a substituição de Antonio Palocci por Guido Mantega no Ministério da Fazenda, Tavares não vê motivos para estardalhaço. Para ele, a simples troca de ministros, desde que mantida a política econômica, não deve ser motivo de apreensão, mas como ato de gestão. "Só seria um problema se toda a agenda de desenvolvimento hoje em curso fosse deixada de lado."