Título: 'A fé faz o partido crescer', diz relatório de 1987
Autor: Marcelo de Moraes, Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Nacional, p. A14

Texto de órgão militar relata o crescimento do PT e a ligação de petistas com religiosos

Em relatório confidencial do Centro de Informações do Exército (CIE), de julho de 1987, os militares tentam analisar os motivos do crescimento do PT no País. O partido, naquela altura, já tinha em Luiz Inácio Lula da Silva um candidato com enorme potencial para disputar a sucessão presidencial, assim que as eleições diretas fossem restabelecidas por lei, o que aconteceria pouco tempo depois. No documento, os militares avaliavam que "a fé faz o PT crescer no interior", associando atividades da sigla a grupos religiosos.

"Aproveitando-se da idéia força de que 'a Igreja tem um amor todo especial pelos pobres marginalizados do mundo', o chamado clero progressista, através das Comissões Eclesiais de Base (CEBs) e de alguns padres, tem se engajado na política em prol do partido, agremiação eleita para expressar seus pensamentos políticos. Basta lembrar as discussões sobre a Constituinte e a Constituição e o apoio aos candidatos e ao próprio PT nas eleições", cita o relatório.

Na avaliação dos militares, essa parceria entre PT e religiosos poderia também aumentar o poder de influência política da Igreja. "Pregando que o político ao ser eleito entra em um mundo que não é o mundo dos pobres e dos trabalhadores, o clero progressista vem afirmando que não basta eleger o pobre porque ele também se corrompe. Preconiza que o importante é investir na organização popular, sindical e eclesial."

O documento ainda relata: "Dentro desse quadro, tem procurado mostrar aos trabalhadores a necessidade de criarem núcleos do PT nos bairros, favelas etc, avançando cada vez mais em sua organização. Embora exista uma certa incoerência nessa proposição do clero, ela tem como objetivo a formação de núcleos de pressão, o que trará como conseqüência um melhor desempenho eleitoral do partido e ainda levará os parlamentares que atuam no PT a atenderem os reclamos populares, conseguindo assim influir nas decisões nacionais."

O texto acrescenta ainda o temor dos militares pelo avanço eleitoral que o PT vinha fazendo pelo interior do País, por conta do apoio dos religiosos. Segundo a avaliação militar, esse quadro teria conseqüência clara: "A previsão é que nas eleições para o cargo de prefeito, em 1988, algumas das prefeituras do interior passem a ser administradas pelo PT."