Título: Movimento por eleições diretas era monitorado por arapongas
Autor: Marcelo de Moraes, Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Nacional, p. A14

Em junho de 1987, os militares já previam o aumento da mobilização da sociedade por eleições diretas para a Presidência - àquela altura ainda não garantidas para escolha do presidente seguinte. O movimento pela escolha direta era visto com preocupação nos documentos sigilosos das Forças Armadas. Uma reunião realizada na CNBB, com a presença de 15 parlamentares, tratando do assunto foi monitorada de perto pelo serviço de inteligência do Exército.

Um informe confidencial do Exército revela o que foi discutido: "Investir na mobilização popular e intensificar o lobby da Igreja na Constituinte para garantir a pressão de base e aprovação de emendas populares." Aponta, ainda, o que seriam os principais tópicos do encontro: "Segundo declarações de um dos mentores da Articulação Nacional pela Mobilização Popular na Constituinte, presente a essa reunião, tudo o que foi feito até agora não passa de um grande ensaio, pois o que já existe são projetos e que o momento de maior pressão ainda está por vir." A última frase foi grifada.

Os militares apontam a participação de "comunistas" e do PDT, então comandado por Leonel Brizola, no movimento. Esses grupos estariam dispostos "a impor a vontade da minoria sobre a maioria" e a "pôr o bloco popular nas ruas". Pela avaliação do relatório, pretendiam "exigir eleições diretas para 1988".

A adesão da Central Única dos Trabalhadores (CUT) também constava das observações. "A CUT participará da frente que deve envolver a participação de partidos políticos e de amplos setores do movimento popular para deflagrar uma campanha pelas Diretas já", cita o informe.

E continua: "Nessa campanha, será desenvolvido um intenso processo de agitação e propaganda das bandeiras de luta dos trabalhadores, imprimindo um caráter classista às mobilizações."