Título: Lula apela para ter o PMDB desde já
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Nacional, p. A13

Presidente corre a fim de recompor base para os 9 meses de mandato que lhe restam e para a reeleição

Angustiado e deprimido com a interminável crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo dramático aos poucos interlocutores políticos que lhe restaram no governo: pediu ajuda para "soldar" a estraçalhada base aliada e atenção especial ao PMDB.

A nove meses do fim do mandato, o presidente está preocupado com os reflexos da enorme turbulência sobre o projeto de reeleição. Diante de uma crise atrás da outra, Lula não conseguiu até agora definir a coordenação de sua campanha e nem mesmo montar os sonhados palanques regionais.

Lula acha fundamental atrair o PMDB para ganhar o segundo mandato e não ficar refém de partidos pequenos. Desprotegido na arena política, o presidente reaproximou-se do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu que, mesmo cassado pela Câmara, tem conversado com peemedebistas de vários Estados, na tentativa de aparar arestas. Nesse tête-à-tête itinerante, sempre pede apoio a Lula.

Há cerca de duas semanas, por exemplo, Dirceu encontrou-se com o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), candidato à reeleição e hoje um adversário do PT. Uma aliança com o PMDB, ainda que não oficial, é a chave para o segundo mandato de Lula, no diagnóstico do ex-ministro petista. Nos bastidores, Dirceu afirma que o DNA do PMDB é desenvolvimentista, "como o do PT".

Levantamento feito pelo Palácio do Planalto, no entanto, indica que o partido do ex-governador Orestes Quércia, irremediavelmente dividido, está mais perto de firmar parcerias com o PSDB em colégios eleitorais importantes, como São Paulo, Minas e Rio.

O namoro de peemedebistas com tucanos também vai muito bem em Alagoas, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

Lula mostra inconformismo com esse cenário. O novo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse que a articulação política do governo, de agora em diante, ajudará a criar um processo "estável e tranqüilo" para as eleições de outubro.

"Não vai ser um ministério para articular a campanha do PT", assegurou Tarso. "O que pretendemos é criar condições para que as eleições transcorram de forma adequada, num ambiente político saudável, e tenho condições de provar que não farei um trabalho partidário. Vou conversar com quem quer que seja, dos aliados à oposição."

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aplaudiu a iniciativa. Para ele, o Planalto precisa refazer com rapidez a interlocução com o Congresso e os partidos. "No ano passado, o Congresso fez as investigações que a sociedade exigiu e compatibilizou a crise com o funcionamento da Casa. Agora, tudo está mais difícil por causa da exacerbação dos ânimos com a proximidade das eleições", argumentou.

CACOS

Após a difícil maratona palaciana para "juntar os cacos" - expressão ouvida com freqüência no Planalto - e retomar votações importantes, como a do orçamento, a ordem de Lula é uma só: buscar a "coesão política" na equipe.

Desfigurado desde junho do ano passado, quando Dirceu foi abatido pelo escândalo do mensalão, o governo foi ferido de morte há seis dias, com a demissão do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, acusado de ordenar a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Nildo, como é conhecido, havia denunciou ao Estado a rotina de uma mansão alugada por integrantes da república de Ribeirão e freqüentada por Palocci.

As baixas dos dois ministros mais poderosos da República somam-se a outras degolas na seara petista. Todos os homens do presidente se foram com as sucessivas crises, no Planalto e no PT.

"Mas eu quero conversar com todos que passaram pelo governo: vou falar com Dirceu, com Palocci, e ouvir as várias posições para trabalhar com unidade na articulação", avisou Tarso, diplomático.

Para completar o inferno astral, o presidente Lula perdeu na semana passada colaboradores importantes, como Jaques Wagner (antecessor de Tarso) e Ciro Gomes (ex- Integração Nacional), que deixaram o ministério para disputar as eleições de outubro.

Tanto Wagner, que concorrerá ao governo da Bahia pelo PT, como Ciro - candidato do PSB a deputado federal e também cotado para vice na chapa de Lula - tinham experiência política e atuavam como seus conselheiros. Os sobreviventes atestam que hoje o presidente está só, ressabiado e parece ainda não acreditar no que aconteceu.