Título: Mercadante é o melhor contra Serra, avalia PT
Autor: Ana Paula Scinocca, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Nacional, p. A9

Para cúpula petista, perfil do senador é mais adequado do que o de Marta na disputa pelo governo de São Paulo

A oficialização da pré-candidatura de José Serra ao governo de São Paulo convenceu definitivamente a cúpula do PT de que o nome ideal do partido para enfrentar o PSDB é o do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, e não o da ex-prefeita Marta Suplicy. Apesar da constatação, os dirigentes da sigla reconhecem que não há como evitar a prévia entre os dois - marcada para 7 de maio - e, na escolha direta dos quase 190 mil filiados aptos a votar, o resultado é imprevisível.

"Havia um sentimento na direção do PT de que o Aloizio Mercadante seria o melhor nome do partido para a disputa do governo de São Paulo, independentemente de quem fosse o candidato do PSDB. Agora, com a definição por Serra, o quadro fica mais claro", afirma um graduado dirigente petista. "Não podemos nos esquecer da política de redução de danos. Serra é favorito. A prioridade é a eleição do Lula", sustenta outro integrante da cúpula.

A constatação é a mesma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo alguns de seus interlocutores. Ele tem evitado manifestações públicas a favor de um dos dois, mas, reservadamente, não esconde a predileção pelo senador. "O presidente não vai se manifestar mesmo, mas quem perguntar vai ouvir que seu preferido é Mercadante", declarou um membro da direção do PT com trânsito livre no Palácio do Planalto. Aliados do senador se ressentem de uma atuação mais incisiva de Lula, já que o líder do governo dispõe de menos tempo do que Marta para correr atrás dos filiados. Em função disso, esses mesmos aliados abortaram na sexta-feira, durante reunião da Executiva estadual da legenda, uma proposta do grupo da ex-prefeita para antecipar a prévia em 15 dias.

Na lógica da cúpula petista, o perfil de Mercadante, como líder do governo e economista, é mais adequado para enfrentar o candidato tucano. O enfrentamento de Serra e Marta seria uma espécie de terceiro turno da sucessão paulistana, avaliam, menos vinculado ao embate federal. "Não vi nenhum sinal da cúpula do partido de que o Mercadante seria melhor adversário", declarou Carlos Zarattini, um dos coordenadores da equipe da ex-prefeita. "Além do mais, essa abordagem é equivocada, até porque o Serra abandonou a capital. Vamos mostrar o quanto São Paulo perdeu ao trocar a gestão do PT pela do PSDB."

Seja qual for o candidato do partido, os petistas começam a azeitar o discurso contra o PSDB. A integração entre os comandos nacional e estadual do partido já cresceu e os paulistas foram incumbidos de vasculhar a herança do governo Geraldo Alckmin. A última aposta da liderança do PT na Assembléia é uma ação direta de inconstitucionalidade levada ao Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro contra o regimento interno da Assembléia.

CPIs

Se o STF aceitar a tese petista, pode estar aberto o caminho para a instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito na Casa. Há 69 pedidos protocolados. Um mandado de segurança na mesma linha já foi rejeitado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Na quinta-feira, os petistas levaram um novo pedido de liminar, específico sobre o suposto escândalo de tráfico de influência e uso da máquina na compra de espaços publicitários da Nossa Caixa.

"Vamos mostrar aos eleitores a falta de palavra do Serra, seu desempenho pífio como ministro da Saúde e a relação obscura com Gregório Marin Preciado (marido de uma prima de Serra, citado na campanha de 2002 por supostas irregularidades na aquisição de empréstimos de bancos públicos)", atacou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). "Temos muito o que dizer sobre Serra e o governo Alckmin, que acabou com a segurança e a educação do Estado, entre tantos problemas."

"É muito grave o que fez o Serra. Ele mentiu. Se fosse deputado, poderia ser cassado por falta de decoro", disse Mercadante. Marta reconheceu que será mais difícil bater Serra do que os outros quatro pré-candidatos apresentados inicialmente pelo PSDB, mas acredita que o ex-prefeito perdeu muito de sua credibilidade ao abandonar a capital. "Isso vai ser uma mancha na biografia de Serra. Ele largou tudo por ambições pessoais", insistiu.

Parte da cúpula petista e integrantes da direção nacional do PMDB - aliado dos sonhos de Lula e de Alckmin - levantam a hipótese de que a candidatura de Serra ao governo não seja definitiva. "Se Alckmin não decolar, Serra estará pronto para assumir a candidatura presidencial a qualquer momento", avalia um peemedebista.

Na trincheira vermelha, foi definido também um novo cronograma de manifestações contra Alckmin e Serra, a exemplo do protesto organizado contra a renúncia do ex-prefeito, no centro da capital, na sexta-feira. Além do afastamento de Serra, o foco é a instalação de CPIs na Assembléia.

Concentrados por enquanto na guerra interna, Marta e Mercadante garantem ter o apoio da maioria dos filiados. Cortejado com potenciais 15 mil votos da região de Osasco, o prefeito Emídio de Souza deu sinais de que ficará com Marta. Pode ser o fiel da balança.