Título: Padrão japonês de TV digital aguarda só assinatura de Lula
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Economia & Negócios, p. B18

Ministro de Comunicações do Japão, Heizo Takenaka, já fala em modelo 'nipo-brasileiro'

O padrão japonês de TV digital, ISDB, está muito próximo de ser adotado no Brasil. Falta só o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciar. A comitiva de ministros e técnicos em Tóquio finaliza um memorando de entendimento, a ser assinado em breve, em que o governo japonês se compromete com uma proposta considerada suficiente pelo Brasil.

"Valeu a pena vir, foi excelente", afirmou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, que sempre defendeu a tecnologia japonesa. "Se o presidente se sentir seguro, já pode decidir." As emissoras brasileiras de TV também querem o ISDB, apontado como o tecnicamente melhor pelos estudos.

Os ministros tomam um grande cuidado, porém, para não darem a entender que capitularam às pressões dos radiodifusores. Nem que jogaram fora os estudos dos pesquisadores brasileiros, financiados com recursos públicos. "Negociamos que o sistema seja aberto, para incorporar as inovações já desenvolvidas no Brasil e também futuras inovações", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O relatório deve falar em Sistema Brasileiro de TV Digital, com tecnologia de modulação japonesa, no lugar de dizer padrão japonês. O ministro japonês de Assuntos Internos e Comunicações, Heizo Takenaka, falou em padrão "nipo-brasileiro", em reunião com a comitiva brasileira.

FÁBRICA Em clima de vitória, o primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, posou para fotos segurando as mãos dos três ministros brasileiros: Costa, Amorim e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). "O grupo de trabalho da TV digital prepara um pacote atraente para garantir a fábrica de semicondutores", disse Furlan. "Estamos dispostos a fazer um pacote de estímulo fiscal, desde que haja transferência de tecnologia."

As principais condições negociadas pelo governo brasileiro com o Japão são a incorporação das pesquisas brasileiras, o incentivo à instalação de uma fábrica de semicondutores no País e participação do Brasil na evolução do padrão. "O sistema japonês é adequado à realidade brasileira e outros também podem ser adequados", explicou Amorim. "Por isso as contrapartidas são exigidas."

O que ficou acertado, quanto à unidade fabril de microeletrônica, é que o governo japonês irá apoiá-la, o que pode incluir crédito oficial do Japan Bank for International Cooperation (JBIC). A fábrica não deve ser o grande projeto de US$ 2 bilhões a US$ 5 bilhões com que sonhou por alguns anos o governo brasileiro, mas uma unidade de chips dedicados, para eletrônicos de consumo, com investimento de US$ 400 milhões a US$ 700 milhões. Hoje, a comitiva visita empresas como NEC, Sony e Toshiba. "A Toshiba está extremamente interessada em instalar uma fábrica de semicondutores", disse Costa.

Os ministros fizeram questão de destacar que a assinatura de um memorando não significa que a decisão já está tomada, mas o restante do discurso acabou indicando o contrário. "A escolha só será feita no Brasil", garantiu Amorim. O Brasil é essencial à tecnologia de TV digital japonesa, até agora limitada ao mercado local. Foram vendidos cerca de 10 milhões de televisores no Japão em 2005, uma quantidade equivalente ao comercializado no Brasil. A decisão do governo brasileiro pelo padrão japonês pode mais que dobrar o mercado atual, pois outros países sul-americanos podem segui-la.