Título: Peru e EUA assinam acordo de livre comércio
Autor: PAULO SOTERO
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Economia & Negócios, p. B13

Com a eleição indefinida no Peru e com o presidente americano enfraquecido em fim de mandato, não há garantia de ratificação

Os governos dos Estados Unidos e do Peru assinaram ontem o Acordo de Livre Comércio que negociaram nos últimos dois anos sem garantia de que ele será ratificado pelos congressos dos dois países. O presidente peruano, Alejandro Toledo, compareceu ao ato, realizado no gabinete do ministro de comércio exterior da Casa Branca (USTR), Rob Portman, em Washington. "Esse acordo confirma os fortes laços entre os povos do Peru e dos Estados Unidos e é instrumental na nossa estratégia para avançar a prosperidade em nosso hemisfério", disse Portman.

Contudo, num sinal das dificuldades que o presidente George W. Bush, politicamente enfraquecido pela guerra do Iraque e pelas divisões internas do Partido Republicano, enfrentará para convencer um Congresso em fim de legislatura a respaldar o acordo, o líder americano, que estava na capital, deixou passar a oportunidade de endossar as palavras de Portman com sua presença e não compareceu à cerimônia, realizada a menos de duzentos metros do Salão Oval.

Toledo prometeu empenhar-se pela ratificação do acordo. Sabe, no entanto, que terá que consegui-la nas próximas semanas - antes do segundo turno das eleições presidenciais, em meados do mês que vem. O cientista político Álvaro Vargas Llosa disse ontem que "é altamente improvável que isso aconteça" porque tanto Ollanta Humala, que ganhou o primeiro turno, quando Alan Garcia, que provavelmente disputará com ele o segundo turno, pediram que o debate sobre o tratado seja adiado para depois das eleições. Humala pronunciou-se francamente contrário ao tratado e disse que o cancelará se for eleito.

Garcia já assumiu todas as posições possíveis a respeito do tema e a expectativa é que acabará por apoiá-lo, ser for eleito. O líder da APRA não tem, porém, nenhum interesse em dar munição eleitoral a Humala manifestando-se em favor do acordo em plena campanha.

Em Washington, o próximo passo é a notificação oficial pela Casa Branca ao Congresso de que pretende submeter o tratado à aprovação do legislativo. Não está claro que os republicanos, agora na defensiva, estejam interessados em arriscar capital político faltando menos de seis meses para uma eleição legislativa na qual, segundo as pesquisas, poderá perder o controle da Câmara de Representantes. Os democratas, por sua vez, estão prontos para explorar o tema politicamente. "Se o presidente Bush quiser um amplo apoio do Congresso para esse acordo, o USTR aceitará a oferta do presidente Toledo de incluir padrões trabalhistas no texto", disse o deputado democrata Charles Rangel.

Na semana passada, o deputado republicano Bill Thomas, presidente da influente comissão de dotação e orçamento da Câmara, aliado da Casa Branca na questão do comércio, aconselhou Bush a apostar o capital político que lhe resta na ratificação de acordos bilaterais e deixar de lado a busca de um acordo global na Rodada de Doha da Organização Mundial de Comércio.

Segundo ele, a Rodada está morta. "Seja qual for o último queixume da Rodada de Doha, temos que seguir adiante, mas não é nela que os EUA devem colocar a maioria de seus recursos".