Título: Prêmio Nobel quer entender o País
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Economia & Negócios, p. B9

Economista Michael Spence está no Brasil e prepara estudo sobre crescimento, desenvolvimento e pobreza

O ganhador do Prêmio Nobel de Economia Michael Spence acha que precisa entender melhor o Brasil. "O Brasil é o país mais importante da América Latina. O maior e, de muitas maneiras, o mais promissor", disse Spence ao Estado.

O economista, que dividiu o Nobel de 2001 com Joseph Stiglitz e George Akerlog, está visitando o País esta semana e na próxima deve iniciar a coordenação de uma equipe de economistas em diferentes países que vão preparar um estudo para o Banco Mundial sobre crescimento e desenvolvimento. "Vamos ver se podemos desenvolver algo que vagamente lembre um consenso", afirmou.

A idéia é que os resultados sejam diferentes dos de outro consenso, o famoso "Consenso de Washington", formulado pelo economista John Williamson, e cujo conjunto de políticas econômicas recomendados foi dominante entre os países emergentes na década de 90, inclusive na América Latina.

O trabalho a ser desenvolvido agora, disse Spence, buscará formulações sobre "como fazer as economias em desenvolvimento crescerem rapidamente e como fazer a pobreza diminuir o mais rápido possível". De acordo com ele, será "um trabalho difícil", já que cada país é diferente do outro.

"Obviamente, não há uma simples receita que funcione", disse. "Por outro lado, nenhum de nós, economistas, acredita que não existam princípios gerais. Esse é o território no qual teremos de operar."

Spence citou como referência para o trabalho um livro do Banco Mundial chamado Crescimento econômico nos anos 90. Para Spence, o livro foi uma tentativa de entender o que aconteceu na economia na década e as políticas adotadas por diferentes países - "o que funcionou, o que não funcionou e em quais circunstâncias".

Ciceroneado por um dos pais do Plano Real, Edmar Bacha, Spence conversou sobre o tema com economistas da Casa das Garças, da qual Bacha é sócio-fundador. Mas não está limitando seu aprendizado a contatos acadêmicos. Na terça-feira, ele esteve na Rocinha, conhecendo a experiência de microcrédito da VivaCred, que começou a trabalhar com o sistema em 1997, com sucesso, e hoje tem parcerias que incluem o Banco Popular do Brasil, do governo federal. Fez várias perguntas e ficou surpreso com a taxa de inadimplência, de apenas 2%. Esperava que fosse muito maior. "Foi muito impressionante o que vi aqui hoje."