Título: Governo já admite falência da Varig e estuda plano B para passageiros
Autor: Vânia Cristino, Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4,5

Possibilidade se tornou maior depois da decisão de Lula de não liberar dinheiro público para ajudar a companhia

A possibilidade de falência da Varig já é admitida por fontes do governo. A quebra da empresa está se configurando a cada dia com o agravamento da situação financeira e ganhou um novo fator determinante com a decisão do presidente Lula de não autorizar a liberação de dinheiro público para sanear a companhia, que tem uma dívida acumulada de mais de R$ 7 bilhões. Ontem o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, e seus diretores se reuniram com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e discutiram alternativas de vôos para os passageiros da Varig no caso de a empresa paralisar suas atividades. A situação é considerada gravíssima pelo governo, que está preocupado com tumultos que podem ocorrer se a Varig suspender seus vôos.

Nada deverá acontecer, no entanto, durante os feriados da Semana Santa. Mas setores do governo consideram que o futuro da Varig é incerto a partir da próxima semana. Todas as outras empresas aéreas já apresentaram ao governo seus planos de emergência para ocupar a lacuna que poderá ser deixada pela Varig. A TAM e a Gol são as que têm mais capacidade, hoje, de suprir o mercado substituindo a Varig em rotas internas. A expectativa do governo é de que, em três dias os problemas no mercado interno sejam solucionados.

Mas, no caso das rotas internacionais operadas pela Varig, as conseqüências são mais graves, porque as demais companhias brasileiras não têm como atendê-las e a substituição dos vôos por outras empresas brasileiras demoraria pelo menos um mês (ler mais na B5). Esse prazo seria fatal para a aviação brasileira pois a credibilidade das companhias aéreas estaria atingida, e as estrangeiras teriam ocupado o mercado.

SITUAÇÃO DELICADA Algumas das medidas que têm sido tomadas nas últimas horas, na avaliação de técnicos do setor, sinalizam que o governo não vai interferir para conter a crise financeira, o que pode significar o fim da Varig. A decisão de intervir no fundo de pensão dos funcionários, o Aerus, segundo fontes do governo, foi tomada para impedir que o patrimônio do fundo fosse dilapidado num eventual socorro à empresa, defendido por parte dos funcionários da companhia. A Varig já deve R$ 2,3 bilhões em contribuições atrasadas ao fundo.

No Palácio do Planalto, há consciência de que "a situação está cada vez mais delicada e complicada". Na noite de terça-feira, o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff analisaram detidamente o assunto.

A idéia de deixar a empresa falir já havia sido discutida em reunião, na sexta-feira da semana passada, na Casa Civil, com a presença do ministro da Defesa, Waldir Pires, os principais credores e representantes da Varig. Dilma dizia que não havia muito a ser feito. Mas Waldir Pires, que é contra a falência da empresa, resistiu à idéia e tentou discutir novas propostas, inclusive a de uma moratória de até seis meses dos credores, como propunha a empresa, com apoio de muitos parlamentares. Mas esta proposta esbarrou em questões jurídicas.

Ontem, surgiram rumores de que na segunda-feira alguns credores poderiam procurar a Justiça. Mas nenhum dos credores oficiais está disposto a pedir a falência da Varig, para não assumir o ônus político pela quebra. Serão 11 mil desempregados, um rombo enorme nas contas públicas e cerca de 25 mil bilhetes comprados por pessoas que pretendem ir à Copa do Mundo, na Alemanha, que correm o risco de não serem honrados, apesar dos planos de contingência para o caso de a Varig suspender as operações.

O ministro Waldir Pires, que ontem ainda tentava analisar planilhas e conversava com funcionários da empresa, quer que se encontre uma forma de manter a Varig viva. "Nós estamos avançando diariamente (nas discussões). Tenho essa impressão", disse ao Estado. Ele sabe que o presidente é contra o uso de dinheiro público, mas insiste em que algo precisa ser feito pela empresa.

Autoridades ligadas ao setor dizem que, mesmo que o governo desse uma ajuda à Varig, isso não resolveria o problema. Ontem, falou-se em se buscar um financiamento para a empresa. Mas há resistências da área econômica porque a Varig não tem como oferecer garantias para um empréstimo.