Título: BR Distribuidora é o maior entrave, diz Bottini
Autor: Vânia Cristino, Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4,5

Presidente da Varig afirma que a estatal aceitou o plano de recuperação e deveria cooperar

A BR Distribuidora representa hoje o maior entrave ao sucesso do plano emergencial da Varig, que prevê suspensão temporária de gastos correntes, com pagamento posterior. A avaliação foi feita ontem pelos principais executivos da Varig e da consultoria Alvarez&Marsal. Além deste projeto, a empresa tenta planos alternativos, nova rodada de negociações com a VarigLog, eventual participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em uma solução de mercado, entendimentos com investidores financeiros e acordos comerciais com outras empresas.

"Estamos falando de um credor que está dentro do plano de recuperação. Aprovou o plano duas vezes. Essa é a diferença, não é só um fornecedor", disse o presidente da Varig, Marcelo Bottini, depois de explicar que a empresa não pede dinheiro público ou do governo, mas um acordo comercial com a BR, um prazo de 60 dias para pagar o combustível, hoje quitado antecipadamente. Segundo a Varig, as negociações com as empresas de leasing de aviões, com os empregados e com a própria Infraero estão evoluindo melhor.

Junto à BR, estes são os "quatro pés" do plano. O executivo Luis de Lucio, da consultoria Alvarez&Marsal, contratada pelos credores e autora do plano emergencial, diz que "as quatro pernas têm de funcionar juntas". "Com a BR está muito complicado e as outras três dependem disso", afirmou De Lucio.

A Varig lembra que transferiu para a BR, estatal, todo o seu fornecimento quando foi criada, a pedido do governo, e lembra que chegou a ter 90 dias de crédito no passado e que os concorrentes têm prazo. Segundo a empresa, os pagamentos para a distribuidora são diários e as dívidas antigas estão renegociadas.

'ESFORÇO ADICIONAL' Bottini fez ontem um balanço da situação da empresa desde a entrada, no ano passado, no processo de recuperação judicial. Segundo ele, as dívidas passadas foram repactuadas em pagamentos com prazos de sete a dez anos. Ele diz que "tinha um paciente enfermo na UTI e agora vai sair da unidade e, para que saia, é preciso um esforço adicional". "A Varig buscou uma solução de mercado. Os credores são hoje os grandes administradores da Varig", afirmou.

Credores, juízes, administradores judiciais, a Alvarez acompanham tudo o que ocorre na empresa, diz o presidente da Varig. E explica que já eram previstos problemas no período de baixa temporada e que o próprio plano deixava implícita a necessidade de capital nesta fase. De acordo com ele, o plano prevê a estruturação de um fundo - que receberá ações da Fundação Ruben Berta (FRB) e no qual entrarão novos investidores -, mas isso deve levar três meses.

Até lá, é preciso equacionar os problemas de caixa. A principal proposta é a postergação negociada de gastos correntes. No front de entendimentos com a VarigLog, estão sendo negociadas nesta semana uma equação entre o passivo anterior e os gastos correntes não pagos pela companhia. Junto ao BNDES, não houve ainda a formalização de pleito. A Volo Brasil, dona da VarigLog, ofereceu US$ 350 milhões para comprar a Varig.

Bottini também lembrou que a Fundação Ruben Berta já foi afastada da companhia. E voltou a dizer que a empresa precisa de um aceno do governo de que a Varig é importante ao País, como antecipou ontem o Estado. O executivo disse que nunca foi pedir recursos ao ministro da Fazenda, Guido Mantega e lembrou que, na prática, a companhia é credora da União em estimados R$ 4,5 bilhões, relativos a perdas tarifárias, conforme causa julgada pelo Superior Tribunal de Justiça.