Título: Berlusconi denuncia 'fraude geral'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Internacional, p. A17

Prodi reafirma vitória nas eleições de domingo e segunda-feira. Justiça começou a recontagem de votos

O primeiro-ministro conservador Silvio Berlusconi declarou ontem que as eleições gerais italianas de domingo e segunda-feira, ganhas pela coalizão de centro-esquerda, foram marcadas pela fraude generalizada. "Os resultados oficiais devem sofrer uma revisão", disse Berlusconi a propósito da recontagem de votos, pedida por ele e já iniciada pela Justiça Eleitoral italiana. Indagado sobre se o resultado pode ser alterado, ele foi enfático: "Tem de mudar!"

O líder centro-esquerdista reagiu imediatamente: "Ganhamos a eleição sem a menor dúvida. Berlusconi tem de partir." Prodi disse estar pronto para iniciar as negociações para a formação de seu governo. E insistiu: "A recontagem de votos só vai confirmar os resultados oficiais, já difundidos."

Em razão das dúvidas levantadas pelo primeiro-ministro italiano, o governo dos Estados Unidos ainda não reconheceu o resultado oficial do pleito italiano.

"Entendemos que as eleições estão sendo impugnadas e não vamos comentar os resultados até que sejam confirmados", disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.

O funcionário americano assegurou, no entanto, que os Estados Unidos vão trabalhar de forma "muito estreita" com o futuro governo italiano, "independentemente de quem vença". E acrescentou: "A Itália é um sócio forte, um bom aliado dos Estados Unidos, e isso não vai mudar."

Prodi não comentou a decisão do governo americano de aguardar a recontagem de votos para felicitá-lo. No dia anterior, ele deixara claro que, "ao tomar posse do governo em junho", vai acelerar a retirada do contingente militar italiano do Iraque - cerca de 3 mil homens.

Berlusconi alega que a margem de votos com a qual a coalizão de Prodi venceu a sua na eleição para a Câmara dos Deputados é insignificante. "Apenas 25.224 votos de um total de 38.100.000", sustenta ele. Além disso, o líder conservador quer um reexame de 43.028 votos que acabaram sendo anulados no fim da apuração por fiscais partidários sob o argumento de que as marcas feitas pelos eleitores não estavam claras.

Berlusconi fundamenta sua contestação também em algumas denúncias que surgiram. Uma delas foi feita pelo senador Gino Tremattera, da coalizão direitista. Ele assegurou que 30 mil dos 188.600 votos de eleitores italianos residentes na Suíça desapareceram. "Só chegaram à Itália urnas contendo 158 mil", assegurou ele. "Não sabemos o que ocorreu com aqueles votos. Foram perdidos ou roubados em território suíço ou mesmo italiano", acrescentou.

A Embaixada da Itália em Berna contestou prontamente as acusações do senador direitista. "Os votos enviados pelos eleitores italianos aqui foram depositados em urnas que foram seladas e enviadas a Roma por um avião dos correios que levantou vôo do Aeroporto Internacional de Zurique", destacou o secretário-geral da embaixada italiana, Mario Friegotto. "Não houve nenhuma irregularidade. A lei foi integralmente respeitada e estamos muito tranqüilos a esse respeito", acrescentou o funcionário.

Vivem na Suíça cerca de meio milhão de cidadãos italianos. Desse total, 375 mil têm direito a voto.

Para complicar o cenário, a imprensa italiana informou que uma caixa de papelão contendo pelo menos 900 votos foi encontrada num depósito de lixo da capital italiana. A Promotoria-Geral de Roma abriu ampla investigação. A caixa com os votos que haviam sido computados como válidos foi recolhida pela empresa de coleta de lixo de um colégio que abrigava uma seção. "Pode ter sido um grave erro da empresa", disse um porta-voz da polícia.

"Se Berlusconi tem dúvidas quanto à lisura do processo eleitoral deve demitir seu ministro do Interior (Giuseppe Pisanu), o responsável por isso", concluiu um porta-voz da coalizão vencedora.