Título: Irã vai produzir 54 mil centrífugas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Internacional, p. A14

Meta é aumentar a capacidade de enriquecimento de urânio. EUA pediram o aumento da pressão contra o país

O Irã informou ontem que planeja produzir 54 mil centrífugas para enriquecimento de urânio nos próximos anos, um dia depois de o presidente Mahmud Ahmadinejad ter anunciado oficialmente que o país já possui essa tecnologia. Por enquanto, o Irã afirma operar apenas 164 centrífugas, que enriquecem urânio a um nível de 3,5% - suficiente para gerar energia elétrica, mas não para produzir armas.

"Vamos expandir o enriquecimento de urânio em escala industrial na usina de Natanz", informou o vice-chefe da organização de energia atômica iraniana, Muhammad Saidi.

Ao mesmo tempo que o Irã apresentava os novos detalhes - e reafirmava seus planos de usar a tecnologia para fins pacíficos -, a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, aumentava a pressão sobre o país, fazendo um chamado ao Conselho de Segurança da ONU para que que tome "medidas fortes" contra o Irã.

Ao lhe perguntarem se Condoleezza se referia à imposição de sanções a Teerã, o porta-voz da Casa Branca, Scott MacClellan, saiu pela tangente, respondendo que os EUA estão "consultando " os outros membros do Conselho sobre uma "ação diplomática".

O anúncio de Ahmadinejad foi um novo desafio ao Conselho, órgã o com o poder de impor sanções e que atualmente analisa o programa nuclear iraniano. No dia 28, o Conselho aprovou um comunicado pedindo ao Irã que coopere com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), outro órgão da ONU, suspendendo o programa de enriquecimento. EUA, França e Grã-Bretanha - membros permanentes do Conselho - acreditam que o objetivo do país é produz armas atômicas e não apenas gerar energia elétrica, como declara. Por isso, exigem a interrupção desse processo.

No entanto, o Conselho não está unido sobre o que fazer para forçar o Irã a ceder. China e Rússia mantêm boas relações comerciais com Teerã e se opõem a sanções e a qualquer insinuação de uso de força (ver quadro). Os dois países, contudo, condenaram ontem o Irã.

Uma primeira reunião foi marcada para terça-feira, em Moscou. Será um encontro dos membros permanentes (EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha e França) mais a Alemanha, antecipou o embaixador chinês na ONU, Wang Guangya.

Ao detalhar seus planos, o governo do Irã disse que o objetivo até o fim deste ano é pôr em funcionamento 3 mil centrífugas na usina de Natanz. Não ficou claro quando o governo pretende chegar às 54 mil centrífugas, mas foi repetido que elas fabricarão combustível nuclear para usinas nucleares de energia elétrica. No processo de enriquecimento de urânio, tanto para uso em usinas como para armas atômicas, é necessário a operação de milhares de centrífugas.

Ontem, o subsecretário americano para a não-proliferação nuclear, Stephen Rademaker, estimou que em 15 meses o Irã poderia ter uma bomba atômica. Peritos em armas nucleares avaliam, porém, que o país levaria de 4 até 10 anos para isso.

No próximo dia 28, a AIEA deverá apresentar novo relatório sobre a cooperação do Irã. Diante desse novo desafio, porém, EUA e Europa devem pressionar por sanções.