Título: Mercado espera juro de 15% para junho
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Economia & Negócios, p. B3

A taxa de juro poderá alcançar em junho o seu menor patamar desde março de 1975. Para que isto aconteça, bastará o Comitê de Política Monetária confirmar as previsões do mercado e cortar a taxa em mais 0,75 ponto porcentual no último dia de maio. Com isso, a Selic passaria de 15,75% para 15% ao ano.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, calcula que em março de 1975, em plena época do "milagre econômico", a taxa estava em 13,6%. "Esta era a taxa paga nos BBCs (títulos de emissão do Banco Central) que era, nos anos 70, uma equivalente da Selic", disse.

O economista-chefe da Corretora Concórdia, Elson Teles, acredita que ainda há obstáculos consideráveis para que a marca de 15% venha a ser efetivamente alcançada. "A principal preocupação, neste momento, está concentrada nos preços do petróleo e nos juros dos Estados Unidos", disse. Por esta razão, ele não descarta a hipótese de o Copom optar por cortar o juro básico em apenas 0,50 ponto porcentual em maio. "Nas mesas de operação do mercado, esta já é a aposta predominante", disse. A taxa, neste cenário, recuaria para 15,25% e atingiria o menor nível desde os 15,20% fixados pelo Copom em fevereiro de 2001.

Agostini, entretanto, continua acreditando no corte de 0,75 ponto. "Depois disso, o Copom fará uma parada técnica (para avaliar os efeitos das quedas do juro sobre a economia) e não mais reduzirá a Selic até o final de novembro", comentou. No penúltimo mês do ano, a taxa poderia recuar mais 0,50 ponto porcentual e terminaria o governo Lula em 14,50%. "Este corte ainda dependerá do cenário que teremos para 2007, mais para o final do ano. Se for benigno como hoje, o BC terá segurança para promover a redução", disse. Os participantes de pesquisa semanal do BC acham que a Selic poderá chegar aos 14% no final do ano.

A diminuição dos juros para níveis históricos não chega a causar nenhuma preocupação no economista da Austin Rating. "Ainda seremos o país com a maior taxa real (descontada a inflação) de juros do mundo", afirmou. Isto, segundo Agostini, evitaria uma fuga de recursos dos fundos de investimento. "Os titulares de aplicações em fundos de investimento lastreados em títulos públicos sabem que os juros ainda continuarão elevados", disse.

Teles, da Concórdia, entretanto, não descarta a possibilidade de ocorrer uma realocação dos investimentos. "É possível que haja uma procura maior pelos fundos de investimento em ações", disse.