Título: Presidentes vão negociar supergasoduto
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, da Argentina, Néstor Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez, se encontram amanhã para tentar dar um novo alento ao projeto do gasoduto que trará gás natural das reservas venezuelanas até o Sul do continente. Anunciado como o principal projeto da aliança estratégica entre os três países, o gasoduto patina na indefinição quanto aos preços a serem cobrados pelo gás e na falta de informações técnicas para a elaboração do estudo de viabilidade econômica, cuja conclusão está prevista para julho. Não se esperam grandes anúncios ao final do encontro, que acontecerá em São Paulo.

As principais dificuldades são de ordem técnica. O projeto é orçado em US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões, um valor elevado que só seria sustentável se existissem fábricas usuárias de gás ao longo de todo o trajeto, o que não ocorre. Os impactos ambientais de um gasoduto cortando a floresta amazônica também não são obstáculo facilmente superável. Os técnicos ainda se queixam de a Venezuela não fornecer informações concretas sobre o tamanho da reserva e de não ter uma proposta clara quanto aos preços. Também há dúvidas sobre a prioridade conferida pelos venezuelanos ao projeto, pois Chávez tem discutido investimentos em gasoduto também com o presidente da Bolívia, Evo Morales.

Lula, Kirchner e Chávez deveriam ter tido essa discussão em março passado, em Mendoza, na Argentina. No entanto, a reunião acabou cancelada por "problemas de agenda". Um dos países envolvidos avaliou que não haveria o que discutir, pois os estudos técnicos para o gasoduto não estavam prontos. A situação não mudou muito agora.

Antes da reunião trilateral, Lula terá uma conversa só com Kirchner.

Será hoje à noite, no hotel Sofitel. Os dois deverão discutir a crise envolvendo a disputa entre Argentina e Uruguai em torno da instalação de uma planta de celulose na fronteira entre os dois países. Embora seja uma questão envolvendo os dois países, Lula tem se mantido a par das discussões. A solução desse impasse é vista como um avanço importante no processo de "relançamento" do Mercosul que, do ponto de vista da diplomacia brasileira, ensaiou uns primeiros passos no final do ano passado, quando Lula concordou com a adoção do Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC), um mecanismo de salvaguardas no comércio bilateral.

Kirchner provavelmente desejará discutir os problemas de fornecimento de gás a partir da Bolívia.