Título: Ameaçados de despejo, índios prometem suicídio coletivo
Autor: João Naves
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Nacional, p. A12

Depois de matar dois policiais civis, um grupo de índios da etnia guarani-caiová quer cometer suicídio coletivo no acampamento onde vive há dois anos. No dia 1º deste mês, os investigadores da Polícia Civil de Dourados - em Mato Grosso do Sul, a 220 quilômetros de Campo Grande, região sul do Estado - Rodrigo Pereira Lorenzatto e Ronilson Bartie foram mortos a pauladas, pedradas e facadas quando passavam pelo acampamento indígena. Um terceiro policial, Emerson Gadani, levou facadas na perna direita e na cabeça, mas conseguiu fugir e continua hospitalizado.

O principal acusado pelos crimes é o cacique Carlito de Oliveira, que está preso e alega que os acampados pensaram que as vítimas fossem capangas de fazendeiros que sempre "aterrorizam" os índios disparando tiros nas barracas e fazendo algazarras.

No último dia 6, a juíza federal Kátia Cilene Balugar Firmino determinou o despejo dos caiovás, pacificamente ou com força policial, num prazo de 30 dias, a contar da data do despacho. A área é particular e foi invadida pelos índios, conforme alega a magistrada.

Ontem os indígenas iniciaram uma série de rituais com danças, cânticos e promessas de vingança violenta. "O despejo será um banho de sangue", garantiu o líder, Avaité de Assis, acrescentando que estão dispostos inclusive a cometer suicídio coletivo.

Disse ainda que está anotando os nomes dos membros dispostos a dar a vida pela causa do grupo, cujo número definitivo será revelado no próximo dia 19, Dia do Índio.

"Não vamos sair daqui porque essas terras são nossas. Só vamos sair depois de mortos", afirmou Avaité.

BRIGAS

O grupo vive fora da Reserva Indígena de Dourados, de onde foi expulso por causa de vários desentendimentos com a maioria dos outros índios.

O local onde os indígenas liderados por Avaité estão acampados não é considerado terra dos caiovás.

O coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Mato Grosso do Sul, Fernando Schiavini, disse que está em contato permanente com o Ministério Público Federal, tentando fazer com que a juíza reveja a decisão e cancele o despacho.