Título: 'O presidente não quer que eu saia', diz Thomaz Bastos
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Nacional, p. A8

Ministro afirma que nunca admitiu a possibilidade de deixar governo e se diz "absolutamente confortável"

Sob fogo cerrado da oposição - que lhe confere o papel de suposto mentor do plano de acobertamento do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci -, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou ontem que se sente "absolutamente confortável" no cargo que ocupa desde o início do governo Lula. Segundo ele, as acusações, que chama de "denúncias entre aspas", não têm consistência. "Estou trabalhando normalmente e vou tocar pra frente", afirmou ele, à saída do Auditório Nereu Ramos, na Câmara, onde foi participar de uma audiência pública com anistiados políticos.

"Eu nunca falei que poderia sair do governo, mesmo porque isso está implícito na minha nomeação. Sou demissível a qualquer momento: na hora em que o presidente quiser, eu saio, mas o presidente não quer que eu saia."

Bastos reiterou que está prestigiado por Lula. "Eu conto com a confiança do presidente, ainda ontem ele disse isso. Eu estou fazendo um trabalho respeitável no ministério e na coordenação do governo, vou continuar fazendo isso."

Na próxima semana, provavelmente na terça-feira ou na quinta-feira, Bastos retornará ao Congresso, para depor a deputados e senadores, que querem explicações e detalhes sobre a reunião da qual ele admite ter participado na residência de Palocci. O encontro ocorreu uma semana após a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, acusador do ex-ministro da Fazenda.

Bastos indicou a Palocci o criminalista Arnaldo Malheiros Filho. Foi Palocci quem pediu ao ministro da Justiça que o apresentasse a um defensor que pudesse orientá-lo ante a acusação que a Polícia Federal lhe imputou formalmente - quebra de sigilo bancário e violação de sigilo funcional.

Ministro, ex-ministro e advogado reuniram-se na casa de Palocci no dia 23. A invasão dos dados bancários de Nildo ocorrera no dia 16. Na casa de Palocci, alguém teria sugerido premiar com R$ 1 milhão quem se dispusesse a assumir a violação do sigilo do caseiro, segundo denúncia da revista Veja. "Isso é surreal", reage Bastos. "É invenção, inverossímil. Não é verdade nem parece verdade."

A estratégia de Bastos, ao depor no Congresso, é sofrer a menor pressão possível e preservar o governo de mais desgaste. "Eu venho (ao Congresso) com muita honra", garantiu o ministro, que espera contar com o amparo de parlamentares da base aliada e até de opositores do governo, como o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que foi a seu gabinete, na terça, prestar-lhe solidariedade.

"Pelo que sei, está sendo preparada uma sessão conjunta da Câmara e do Senado para que eu seja ouvido", anotou Bastos. "Me ofereci para depor, depois pedi a antecipação do depoimento e não foi possível, mas quinta-feira será um dia perfeito."