Título: CPI dos Bingos pode convocar Mattoso para novo depoimento
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Nacional, p. A8

Relator quer explicações sobre consulta da Gtech ao então presidente da Caixa, relatada por Buratti ao 'Estado'

Mesmo entendendo que o advogado Rogério Buratti "mediu as palavras" na entrevista que concedeu ao Estado, na segunda-feira, o relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), identificou uma nova revelação sobre o contrato da Caixa Econômica Federal com a multinacional Gtech. Na entrevista, pela primeira vez Buratti acusa o ex-presidente da Caixa, Jorge Mattoso, de ter sido consultado pela multinacional, logo no início do governo Lula, sobre a melhor forma de aproximação com o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Garibaldi considerou a afirmação de Buratti "estranha", por ter sido feita somente agora, quando a ligação com Mattoso não interessa mais a Palocci. "Em nenhuma das quatro vezes em que esteve na CPI Buratti fez esta afirmação", frisou o relator. Como conseqüência, o ex-presidente da Caixa será novamente levado à CPI dos Bingos - que vota na próxima semana a aprovação do relatório que o convoca para depoimento.

Apesar da suspeita de que Buratti pode estar tomando partido em favor de Palocci e contra Mattoso, o relator disse que, a princípio, Buratti não será reconvocado mais uma vez. "Quem já o ouviu, percebe que ele domina muito mais informação do que as que fala, mesmo na condição de testemunha voluntária da Justiça", alegou. "Daí porque vamos ouvir a sua ex e a atual mulher, Elza e Carla Cristina, pois quem sabe elas falam mais do que ele."

Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), a entrevista reforça a necessidade de a CPI promover a acareação do ex-ministro da Fazenda com o ex-presidente da Caixa, como propõe o requerimento de sua autoria. Dias avalia que, apesar da suposta intenção de Buratti de defender Palocci, ele reforça a tese de que o então ministro prevaricou, ao não denunciar a suposta oferta de propina da Gtech ao PT para facilitar a renovação do contrato com a Caixa para a operação de loterias.

Já o líder do PFL, senador José Agripino (RN), sugeriu que a entrevista de Buratti desfez a imagem alimentada pelo PT de que a mansão no Lago Sul onde se reuniam os integrantes da chamada república de Ribeirão Preto - amigos, assessores e ex-assessores de Palocci - era "a casa dos prazeres". "Pelo que ele disse, era sim a casa de negócios." Os fatos citados, na avaliação do senador José Jorge (PFL-PE), mostram que ainda há muito o que apurar com relação ao contrato da Caixa com a multinacional.

Na entrevista ao Estado, Buratti relatou que a multinacional ofereceu entre R$ 5 milhões e R$ 16 milhões para o PT, em troca da renovação do contrato com a Caixa nos moldes desejados. De acordo com o advogado, Palocci rejeitou a idéia, mas a empresa, por fim, acabou conseguindo o que queria.

"Eles buscavam um contato com alguém vinculado ao Palocci, porque estavam buscando relações com o governo", narrou Buratti, fazendo referência à Gtech. "A empresa relatou que eles mantinham contato, tinham dificuldade e queriam abrir as portas." E acrescentou: "Eles faziam propostas de colaborar com o PT (...) A proposta variava de R$ 5 milhões até R$ 16 milhões."

O integrante da república de Ribeirão confirmou, ainda, que Palocci realmente freqüentava a mansão alugada em bairro nobre de Brasília - conforme já havia revelado o caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, ao Estado, no dia 14. "Eu estive com ele lá, duas ou três vezes, junto com o Ralf (Barquete, ex-assessor da Caixa e amigo do ministro)", contou.