Título: Colômbia quer Lula mediando crise
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

Os cinco países da Comunidade Andina de Nações (CAN), Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Equador, estão enfrentando uma crise diplomática que ameaça o bloco. Ontem, o governo colombiano sugeriu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja mediador da crise. ¿Interessa tanto ao Brasil quanto à Colômbia. Vamos compartilhar visões, o Brasil tem apoiado a integração sul-americana, que se baseia na aproximação entre a CAN e o Mercosul¿, declarou a ministra das Relações Exteriores colombiana, Carolina Barco.

Hoje Lula se encontra com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, em Brasília.

A crise, a maior desde a criação do bloco em 1969, se intensificou na semana passada, quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou que o país estava saindo do bloco em protesto contra o tratado de livre comércio que a Colômbia e o Peru estão negociando com os Estados Unidos. ¿

Mas ontem Chávez declarou que pode reconsiderar a saída da Venezuela da CAN se a Colômbia e o Peru reconsiderarem o tratado com os Estados Unidos.

Ele disse que tomou essa decisão após receber uma carta do presidente da Bolívia, Evo Morales, pedindo que a Venezuela continuasse no bloco. ¿Sou obrigado a reconsiderar por solidariedade ao companheiro Evo.¿

O líder boliviano também enviou uma carta para Uribe e para o presidente do Peru, Alejandro Toledo, convocando uma reunião presidencial da CAN. Segundo Chávez, Evo Morales ¿pediu-lhes que suspendessem qualquer medida rumo aos tratados de livre comércio com os Estados Unidos e com a União Européia¿.

Evo explicou que o objetivo da reunião ministerial não deve ser ¿salvar por salvar¿ a CAN, mas fortalecê-la. ¿Ela deve ser a base para a Nação Sul-Americana¿, conclamou.

Em La Paz, o presidente da Bolívia disse que ¿os acordos de livre comércio estão destruindo a CAN¿. Segundo ele, os presidentes Uribe e Toledo assinaram os acordos ¿desconhecendo a luta de seus povos¿.

Morales citou como exemplo o movimento indígena do Equador, que impediu o avanço das negociações com os Estados Unidos. ¿Uma coisa é o que os presidentes podem fazer, e outra é o interesse econômico da maioria, o presidente Toledo não somente traiu o movimento indígena do Peru, mas de toda América Latina¿, acusou Evo. ¿Em nome dos nossos povos, peço que Peru e Colômbia paralisem suas negociações, e que o presidente da Venezuela desista de abandonar a CAN¿, afirmou.

O Peru reagiu com veemência às declarações de Morales contra Toledo. ¿O governo do Peru lamenta profundamente e expressa seu enérgico protesto pelas expressões e pelo significado nas declarações do presidente da Bolívia, que carecem de fundamentos e são impróprias para um chefe de Estado¿, afirmou um comunicado do Ministério das Relações Exteriores do Peru.

A Colômbia reafirmou seu interesse no tratado de livre comércio com os Estados Unidos. ¿Um país com 43 milhões de habitantes como o nosso, com tanto pobreza e desemprego, não pode ficar parado, negando-se a abrir mercados¿, declarou ontem o presidente Uribe. ¿Não temos as bênçãos de petróleo e gás, que os irmãos da Venezuela e Bolívia têm. Produzimos manufaturas e produtos agrícolas e temos de procurar mercados para vendê-los¿.