Título: 'PT não foi o único a usar caixa 2', diz tesoureiro
Autor: Mariana Caetano , Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Nacional, p. A6

Partido quer evitar desgaste e, por isso, vai deixar que cada acusado faça a sua própria defesa, evitando 'chamar a crise'

Ainda surpreso com a contundência da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, o PT unificou o discurso para se defender. Sustenta que as acusações atingem apenas ex-dirigentes, não o partido em si, e tenta assim preservar a legenda para a próxima disputa eleitoral e, sobretudo, para a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O partido insiste em que não cometeu crime, nem inaugurou o caixa 2. "O PT reconhece durante 2004 e 2005 a existência de um grau de informalidade típico da cultura de financiamento dos partidos no Brasil", reagiu o secretário de Finanças, Paulo Ferreira. "Não fomos os únicos a utilizar caixa 2. As imputações feitas pela procuradoria carecem de fundamentação e justificação dos fatos efetivamente ocorridos."

O tesoureiro foi além: "O PT não cometeu crime. No máximo incorremos em ilegalidades que deverão ser apuradas e justificadas diante dos órgãos oficiais."

No relatório, o procurador-geral Antonio Fernando de Souza denunciou a existência de uma "sofisticada organização criminosa" que pretendia "manter o PT no poder com a compra de suporte político de outros partidos".

Para evitar que a denúncia provoque novos estragos à imagem já surrada do partido, a cúpula petista decidiu atribuir aos acusados sua própria defesa. Apontará o que chama de inconsistências do relatório do Ministério Público e não mais do que isso. "Vamos chamar essa crise de novo para o partido por quê?", resumiu um integrante da Executiva Nacional. "Além disso, a denúncia tem um ponto extremamente positivo que será usado como atestado na campanha: o nome do presidente Lula foi preservado."

O ministro de Relações Institucionais e ex-presidente da sigla, Tarso Genro, reiterou que Souza não fez "nenhuma acusação ao PT, mas a indivíduos", que estão sendo processados. "E quem for considerado culpado que pague pela sua culpa."

"O PT é um pouco como massa de bolo. Quanto mais bate, mas cresce", disse o líder do governo do Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

O tom contido em relação a Souza foi quebrado pelo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Em discurso no plenário, ele acusou o procurador de ter sido "mordido pela mosca azul", cobrou investigações sobre suposto superfaturamento na construção do prédio-sede da procuradoria em Brasília e contestou também conclusões da CPI dos Correios.

Ferreira não acredita que a denúncia terá impacto nas ações em curso na Justiça Eleitoral e nos repasses à legenda - o PT recebe R$ 24 milhões por ano do Fundo Partidário. No entanto, o partido aguarda o julgamento de três processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que podem acarretar a suspensão do financiamento público e a cassação do registro. Tais ações, porém, não devem ser influenciadas pela nova denúncia.

Ministros do TSE e especialistas em direito eleitoral consultados pelo Estado explicaram que a denúncia está relacionada apenas ao aspecto penal e não tem repercussões na Justiça Eleitoral. Eventuais condenações definitivas dos acusados de envolvimento com o mensalão poderão levar à suspensão dos direitos políticos. Qualquer condenação, porém, deverá ocorrer daqui a alguns anos. O Supremo Tribunal Federal (STF) deve decidir apenas em 2007 se aceita ou não a denúncia de Souza.