Título: Novo relatório trará BMG e mais acusados
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2006, Nacional, p. A5

Segunda etapa das investigações do MP deve citar outros seis envolvidos no mensalão

As investigações do Ministério Público sobre o esquema do mensalão não ficarão restritas à denúncia de 40 pessoas, entre elas os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken e ex-dirigentes petistas. Numa segunda etapa das investigações, que ainda não tem prazo para ser concluída, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, vai denunciar outros envolvidos no esquema.

Souza deixa claro que os dirigentes do banco BMG deverão ser incriminados nessa segunda etapa. Ao lado do Rural, o BMG foi o responsável pelos empréstimos simulados de R$ 55 milhões ao publicitário Marcos Valério. Nas 136 páginas da denúncia, Souza indica que pretende enquadrar os dirigentes do banco mineiro em pelo menos um crime: formação de quadrilha.

Por meio de assessores, Souza esclareceu que, até o momento, não há nada que envolva o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas investigações a respeito do mensalão. A continuidade das apurações, acrescentou, não significa dizer que o objetivo seja o de atingir a figura do presidente.

Na denúncia entregue ao Supremo Tribunal Federal, o procurador não incriminou a cúpula do BMG, mas afirmou que o banco recebeu "ganhos indevidos do governo federal" e, por isso, seus dirigentes "injetaram recursos milionários na empreitada delituosa, mediante empréstimos simulados". "Entretanto, em face das provas até a ocasião produzidas, não há elementos para apontar uma atuação estável e permanente com os demais membros da organização criminosa, razão pela qual não estão sendo denunciados pelo crime de quadrilha." Mas a atuação desse grupo "será aprofundada na segunda etapa" do trabalho.

Mesmo sem incriminar os dirigentes do banco mineiro, o procurador afirma que "ficou comprovado que o banco BMG foi flagrantemente beneficiado por ações do núcleo político-partidário, que lhe garantiram lucros bilionários na operacionalização de empréstimos consignados de servidores públicos, pensionistas e aposentados do INSS, a partir de 2003". Ele destacou que o BMG "sequer é um banco pagador de benefícios previdenciários".

O procurador apontou o envolvimento de Dirceu com o tratamento diferenciado dado ao BMG nas operações de crédito consignado. Segundo ele, o ex-ministro "foi o principal articulador dessa engrenagem, garantindo-lhe a habitualidade e o sucesso".

Na segunda etapa das investigações, o procurador-geral também deverá pedir ao Supremo abertura de processo contra seis deputados envolvidos no esquema do mensalão, que não foram denunciados nesta primeira etapa das apurações. Ficaram de fora os deputados Sandro Mabel (PL-GO), Roberto Brant (PFL-MG), Vadão Gomes (PP-SP), Wanderval Santos (PL-SP) e Josias Gomes (PT-BA).