Título: Novela da guerra da celulose terá novo capítulo
Autor: Marina Guimarães
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

O conflito entre Uruguai e Argentina por causa da instalação de duas fábricas de papel e celulose terá um novo capítulo. Dentro de 10 dias, 30 empresários e 200 famílias da cidade uruguaia de Fray Bentos, a 300 quilômetros de Montevidéu, onde as fábricas estão sendo construídas, vão entrar com uma ação na Justiça argentina contra o governo do presidente Néstor Kirchner.

Segundo entrevista do advogado argentino Fernando Lorfida para a rádio El Espectador, seus clientes perderam o trabalho por causa dos bloqueios das estradas que ligam os dois países. Desde dezembro, os bloqueios, protagonizados por ambientalistas argentinos, já provocaram perdas de aproximadamente US$ 300 milhões, segundo o advogado.

Lorfida informou que o prazo de 10 dias será para que outros pessoas que se sintam prejudicadas possam aderir à ação legal por "dano emergente e lucro cessante".

O advogado explicou ainda que a figura jurídica de "dano emergente é o que efetivamente cada uma das pessoas sofreu como conseqüência dos bloqueios", enquanto que "o lucro cessante" é o lucro que foram privados de obter por causa da falta de atividade comercial.

Nos momentos de maior tensão, as interrupções do trânsito na fronteira foram feitas nas pontes que unem a cidade argentina de Gualeguaychú com a uruguaia Fray Bentos, e a argentina Colón com Paysandú (400 km de Montevidéu). Em fevereiro, em Gualeguaychú houve um bloqueio de 45 dias ininterruptos, suspenso em 21 de março, com a expectativa de um acordo entre os dois governos. Como não houve acordo, a passagem voltou a ser bloqueada no dia 5 de abril.

CORTE DE HAIA Para o governador da Província de Entre Rios, Jorge Busti, o bloqueio prejudica a estratégia do governo argentino de levar o conflito à Corte Internacional de Haia. "Acredito que para a estratégia nacional, prosseguir com o bloqueio da rota nacional 136 é um erro", advertiu Busti, em cujo distrito está o foco da luta contra as obras.

A duas indústrias de papel e celulose estão sendo construídas pela finlanesa Botnia e a espanhola Ence e representam o maior investimento privado da história do Uruguai.