Título: Só no mês de fevereiro, Varig deu calote de US$ 35,7 milhões
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Economia & Negócios, p. B15

A Varig deixou de pagar US$ 35,767 milhões em impostos, despesas com fornecedores e outras obrigações previstas no plano de recuperação judicial apenas no mês de fevereiro. Somando-se os custos estimados de manutenção, fundamentais para a empresa manter o máximo possível de sua frota em operação, a necessidade de caixa não honrada no mês foi de US$ 53,124 milhões.

Os números constam do relatório mensal de atividades elaborado pela administradora judicial Deloitte Touche Tohmatsu, enviado em 30 de março ao Juízo da 8.ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, responsável pelo caso Varig.

No relatório, o administrador judicial Luiz Alberto Fiore afirma que o plano de recuperação judicial "não foi estritamente seguido/cumprido" pela Varig em fevereiro e diz que, caso não sejam tomadas medidas drásticas, a empresa dificilmente conseguirá cumprir as metas anuais. Fiore recomenda aos juízes responsáveis pelo caso Varig a intimação urgente da empresa para que explique com "elementos concretos" como será capaz de cumprir o plano. Sob pena, alerta Fiore, de a recuperação judicial ter de se transformar em falência.

Como nota o administrador, é premissa básica do plano de recuperação judicial, aprovado em dezembro pelos credores, que as receitas geradas pelas operações normais da empresa sejam capazes de cobrir todas despesas correntes e os custos necessários para o processo de reestruturação.

Outra premissa básica que não está sendo estritamente cumprida diz respeito à manutenção da frota. O plano previa que, em 2006, a Varig deveria ter uma frota de 75 aeronaves, das quais 63 em operação até o fim do primeiro semestre e 69 no segundo semestre.

No entanto, o número de aviões em operação só caiu desde o início do ano. A empresa operou com 61 aviões em janeiro, 59 em fevereiro e 54 em março.

Em carta enviada ao administrador, o presidente da Varig, Marcelo Bottini, afirma que, em abril, a frota em operação cairá para 49. Além da falta de dinheiro para pagar os serviços de manutenção de aeronaves e motores, a empresa está tendo de devolver aviões cujos contratos estão vencendo.

MEDIDAS URGENTES De acordo com o administrador judicial, se não forem tomadas medidas urgentes para manter o número mínimo de aeronaves na frota, a empresa não atingirá o fluxo de caixa previsto no plano para este ano, "sendo bastante provável o descumprimento das obrigações de pagamento previstas".

Considerando apenas as despesas operacionais correntes, o rombo acumulado nos dois primeiros meses do ano foi da ordem de US$ 49,575 milhões.

As receitas com a operação estão caindo, em linha com a redução da frota.