Título: Oferta pela Varig ignora dívidas
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Economia & Negócios, p. B15

A Varig Log apresentará hoje a proposta de compra da Varig aos principais credores da empresa aérea. Da oferta total de R$ 840 milhões (US$ 400 milhões), R$ 630 milhões serão usados para capitalizar o negócio. Ou seja, o dinheiro será destinado a fortalecer a parte sadia da empresa. O plano prevê a divisão da Varig em duas partes. A "Varig antiga", que ficaria com as dívidas, receberia da VarigLog R$ 110 milhões (US$ 50 milhões) para pagar as demissões e alguns compromissos financeiros, como debêntures conversíveis em até 5% da "Nova Varig". A dívida total da Varig é de R$ 8,5 bilhões.

O "compromisso de capitalização" prevê o uso dos R$ 630 milhões num período de 12 meses, para três finalidades: capital de giro e reservas de caixa; pagamento de trabalhos em andamento, recuperação de aeronaves e configuração de produtos; e arrendamentos (aluguéis) devidos relativos a 48 das 71 aeronaves que seriam aproveitadas na "Nova Varig".

Hoje à tarde, a proposta será discutida com os principais credores da Varig, na sede da companhia, no Rio. A tentativa, segundo fontes da empresa, é buscar um acordo prévio nos próximos dias. A proposta de aprovação será analisada e decidida em assembléia geral de credores, convocada para o próximo dia 2, também no Rio.

Quando a primeira oferta, de US$ 350 milhões, foi feita, duas das principais críticas formuladas por trabalhadores e credores diziam respeito ao fato de a proposta não contemplar o pesado endividamento da Varig e ao fato de que parte dos recursos será usada na nova atividade. A Varig Log argumenta que sua oferta mantém a empresa operando e mantém parte dos trabalhadores na ativa.

A proposta atual é clara: o negócio só poderia ser fechado levando em conta que as ações da Varig fossem repassadas "livres e desembaraçadas" de ônus e encargos e sem acarretar à Varig Log nenhuma sucessão "tributária, trabalhista ou de outras responsabilidades de qualquer natureza".

Uma fonte explica que a ação em curso contra a União, para a recomposição tarifária, ganha no Superior Tribunal de Justiça (STJ), ficará na "Varig antiga". A Varig estima que a ação tem um valor ao redor de R$ 4,5 bilhões, conforme cálculo atribuído à Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ao fundo de pensão Aerus, a proposta prevê o pagamento mensal de R$ 2,1 milhões, durante os primeiros 24 meses, após o eventual fechamento do negócio. Com esse pagamento, segundo um especialista que leu a proposta, o fundo de pensão liberaria uma garantia que tem de ações da Varig Log ainda nas mãos da Varig - a venda à Volo Brasil não incluiu esta pequena parcela de ações.

De forma geral, a proposta reitera que passagens e milhas emitidas pela Varig serão honradas. Prevê, também uma opção de compra de 90 dias para que os trabalhadores entrem no capital da nova empresa. A proposta está envolvida no termo de exclusividade de 35 dias. Depois desse período, a Varig poderia, em tese, negociar com outros investidores.