Título: Área equivale a meio campo de futebol
Autor: Juliano Machado
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2006, Metrópole, p. C3

A Favela Chácara Bela Vista, no Parque Novo Mundo, zona leste, nasceu da ocupação de uma área espremida entre as alças do Viaduto General Milton Tavares e a linha de transmissão da Eletropaulo. A área tem 4.800 metros quadrados, pouco mais que a metade de um campo de futebol oficial.

Os primeiros barracos começaram a ser montados no início do ano passado por moradores de outras favelas que não tinham condições de pagar aluguel e se instalaram no local. Rapidamente todo o terreno foi ocupado e hoje não há mais lugar para nenhum barraco. O único espaço que não é habitado é uma horta particular, plantada sob a torre de energia elétrica, que já existia antes do surgimento da favela.

Segundo o líder comunitário João Florêncio do Nascimento, boa parte dos moradores veio de outros Estados, principalmente do Nordeste, e está desempregada ou fazendo bicos como catadores de papel. Ele mesmo é um exemplo: nasceu em Jacobina, Bahia, mas veio para São Paulo ainda jovem e passou por várias favelas até ser avisado de que havia uma área livre na Chácara Bela Vista.

Reginaldo de Jesus Rodrigues, baiano de Itabuna, desistiu do trabalho nas plantações de cacau e chegou à favela há cinco anos. Ele consegue R$ 70,00 por semana com sua carroça de papelão. "É pouco, mas consigo viver. Só preguiçoso passa fome nesta terra."

Rodrigues admite que não sabe o que fazer caso realmente tenha de sair da favela. "Com certeza vou fazer meu barraco em outro lugar", disse. "Mas para a Bahia eu não volto."

A iminente saída do local também preocupa Maura Pereira da Silva, desempregada há três anos. Ela saiu de uma favela próxima há apenas cinco meses e não imaginava que poderia perder tudo com a desocupação. "Não sabia desse problema. Se a Prefeitura não ajudar, vou para a rua", disse Maura, que informou ter pago R$ 1.800,00 por seu barraco.

ADIAMENTO

A juíza Cíntia Thomé, da 8ª Vara da Fazenda Pública, acatou o pedido de reintegração de posse da Prefeitura em janeiro e determinou a saída dos moradores até o dia 4 deste mês. No entanto, a operação foi adiada porque a Subprefeitura de Vila Maria/Vila Guilherme e a Polícia Militar alegaram ter tido pouco tempo para organizar a remoção dos invasores.