Título: Prefeitura: tráfico incitou bloqueio
Autor: Juliano Machado
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2006, Metrópole, p. C3

A Prefeitura disse ontem suspeitar de envolvimento do crime organizado no protesto de moradores da Favela Chácara Bela Vista, zona leste, contra uma reintegração de posse determinada pela Justiça. Por cinco horas e meia, da noite de segunda-feira à madrugada de ontem, eles bloquearam a pista expressa da Marginal do Tietê, sentido Castelo Branco, entre o Viaduto General Milton Tavares e a Ponte Aricanduva. Houve confronto com a Polícia Militar, saques a caminhões e denúncia de cobrança de pedágio para permitir a passagem de motoristas presos no congestionamento.

"Uma ação que bloqueou pontos estratégicos exige uma organização maior do que um simples grupo de moradores poderia ter", afirmou o subprefeito de Vila Maria/Vila Guilherme, Antônio Perosa. Para ele, é preciso investigar a hipótese de que traficantes tenham usado a comunidade como "massa de manobra", pois seriam prejudicados pela reintegração de posse - a área, do Município, tem 4.800 metros quadrados e foi invadida há um ano.

O subprefeito afirmou ainda que moradores da Favela Tiquatira, do outro lado da Marginal, participaram da ação. "Isso leva a crer que não era só questão de moradia." Segundo a PM, o protesto reuniu 300 pessoas que, ateando fogo a pneus e à madeira saqueada de um caminhão, bloquearam a pista das 20h30 de segunda-feira às 2 horas de ontem. Quatro policiais e um fotógrafo foram feridos com pedradas. Em nota, a PM informou que os manifestantes também usaram "fogos de artifício contra a polícia."

Segundo a nota, a PM usou "moderadamente os meios necessários para conter a crise, liberar a pista e impedir novas interdições". Os acessos à favela permaneciam monitorados pela polícia ontem à noite.

O prefeito Gilberto Kassab (PFL) disse que "há uma diferença entre o problema de moradia e o de invasão". Para Kassab, os favelados "são invasores, que ocupam ilegalmente área do Município".

As 230 famílias têm agora prazo até 31 de maio para desocupar os barracos. A Prefeitura, que deu início ao cadastramento das famílias, prometeu ceder caminhões para a mudança e abrir vagas em abrigos provisórios.

O presidente da associação de moradores da favela, Francisco Amorim, disse que já recorreu à Justiça contra a reintegração e negou a acusação de ligação com o tráfico. "A maioria das pessoas ali não é bandido. São trabalhadores, pais de família." Amorim espera que famílias que não têm para onde ir recebam ajuda de custo. Mas Perosa garantiu que não dará dinheiro aos moradores porque eles são invasores de área pública.