Título: EUA estão dispostos a rever cotas
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. B9

País pode diminuir suas barreiras para obter um acordo na OMC

O governo dos Estados Unidos indicou ontem na Organização Mundial do Comércio (OMC) uma primeira tentativa de aproximar sua posição negociadora no setor agrícola às demandas dos países emergentes, como o Brasil. Os EUA, em uma reunião com a União Européia, Austrália, Japão, Índia, além do Brasil, deu indícios de que está disposto a rever as cotas que usará para a importação de produtos sensíveis.

De acordo com a diplomacia brasileira, uma eventual flexibilização poderá facilitar a entrada de carnes e açúcar nacional no mercado americano.

A OMC está correndo contra o relógio. A entidade está a menos de um mês do prazo estipulado para completar um acordo sobre como ocorrerão os cortes tarifários para o setor agrícola e industrial. Apesar da iniciativa americana ontem, cresce o pessimismo entre os negociadores de que um acordo completo possa ser atingido até o final de abril.

Isso porque a questão das cotas é somente uma fração do problema que os países precisam solucionar.O principal obstáculo para um acordo é o tamanho do corte nas tarifas de importação que europeus estarão dispostos a aceitar.

Por enquanto, a redução sugerida por Bruxelas não passa de 36%, enquanto o Brasil quer um corte de pelo menos 54%.

Quanto aos produtos sensíveis, o Brasil sabe que a maioria dos bens que atualmente exporta para os países ricos acabará entrando nessa categoria.Por isso, a tentativa americana de aproximar as posições foi bem recebida pelos brasileiros. 'Queremos resultados', afirmou um negociador do Itamaraty.

A proposta inicial dos EUA era de que seria mantido um certo número de produtos em uma condição especial e que barreiras poderiam ser postas. O Brasil aceita que essa categoria de produtos seja criada, mas pede que as cotas dadas a esses produtos representem até 10% do consumo nacional de cada país. Para americanos e europeus, essa taxa seria exagerada.

Ontem, porém, Washington deu sinais de que poderia criar um sistema que permitira que produtos como carnes ou açúcar importados pudessem ocupar cerca de 7,5% do mercado.

A proposta americana não atende toda a demanda do Brasil nas negociações.

Mas o governo brasileiro vai agora consultar os setores privados para saber quanto poderão flexibilizar seus interesses e ceder para que um acordo possa ocorrer.

Terça-feira, os europeus já haviam dado um sinal de que poderiam aceitar flexibilizar sua posição sobre certos produtos sensíveis. Mas a iniciativa foi considerada pela diplomacia brasileira como 'insuficiente'.