Título: Perdão a dívida dos pobres fica para 2007
Autor: Fernando Dantas, Raquel Massote
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. B7

Comitê será presidido pelo ministro Paulo Bernardo

O ministro do Planejamento e governador do Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Paulo Bernardo, vai presidir um comitê na instituição para estudar o perdão das dívidas dos países mais pobres da região. Com a decisão de criar o comitê, um dos principais temas da pauta da reunião de Belo Horizonte só deverá ter uma definição na próxima reunião anual do BID, em Honduras, em 2007.

A dívida total chega a US$ 3,5 bilhões com o chamado Fundo de Operações Especiais (FOE) e envolve Honduras, Guiana, Nicarágua, Haiti e Bolívia. Bernardo, este ano, será o presidente das assembléias de governadores da instituição e ressaltou que a posição do Brasil, neste caso, será criar garantias para que o fundo continue em condições de operar.

"Se for feito pura e simplesmente o perdão, o fundo perderá de 35% a 40% do volume de recursos", afirmou. Ele defendeu que o BID adote a mesma linha do G-8, que apresentou proposta de perdão das dívidas de países pobres com o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Os países do G-8 mostraram uma proposta de perdão, mas fizeram o ressarcimento dos recursos correspondentes. Esse seria um ponto que tem um amplo apoio, para não prejudicar os outros países pobres que não terão perdão", disse.

Para Luis Alberto Moreno, presidente do BID, "esta não é uma discussão fácil, como não foi fácil nas outras instituições multilaterais". O perdão interessa particularmente à Bolívia, que tem uma dívida de US$ 1,6 bilhão com o fundo, segundo revelou no último final de semana o ministro da Fazenda boliviano, Luis Alberto Arce Catacora. A discussão promete ser acirrada. O secretário de Economia do México, Francisco Dias, enfatizou que o perdão teria de ser feito necessariamente pelos países ricos, para que os outros países da região não sejam prejudicados.

A 47ª Reunião Anual das Assembléias de Governadores do BID terminou ontem em Belo Horizonte e reuniu mais de 10 mil pessoas, segundo destacou Moreno.

LIQUIDEZ Durante os debates dos seminários realizados na reunião do BID, uma das principais preocupações foi a sustentabilidade da atual euforia em relação aos mercados latino-americanos e o risco de turbulência quando a etapa de excepcional liquidez nos mercados acabar. Outro tema importante é a chegada ao poder de líderes carismáticos e nacionalistas - ou populistas, dependendo da análise - em muitos países.

Um dos representantes desta corrente, o presidente Evo Moralez, da Bolívia, foi o principal chefe de Estado convidado à reunião de Belo Horizonte, onde fez um eloqüente discurso contra o "saque" dos recursos naturais dos países pobres da América Latina, por empresas internacionais.