Título: Schwartsman: Problema é o gasto, não o juro
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. B6

Se o governo cortar os juros pela metade, ainda sobrará pouco para investir, diz diretor do BC

Quem quiser saber por que o Brasil cresce menos que outros emergentes deve olhar para o gasto público e para o peso dos impostos, segundo os números apresentados ontem pelo diretor da Área Internacional do Banco Central, Alexandre Schwartzman. O setor público brasileiro gastou no ano passado 44% do Produto Interno Bruto (PIB), mas investiu quase nada. O investimento do governo central ficou em apenas 0,6% do PIB e o de todo o setor governamental não deve ter sido muito diferente de 1,2%, acrescentou.

Para sustentar o gasto crescente, a carga tributária brasileira passou de cerca de 25% do PIB em 1991 para 38% no ano passado. Sem contar os juros, as despesas do setor público aumentaram de 24,3% do PIB, na média de 1991 a 1994, para 31,9% no período 2000-2005.

O quadro não será muito melhor se o governo apenas cortar sua despesa com juros. Para mostrar esse ponto, Schwartsman usou os números de uma tabela. No ano passado, o setor público teve um superávit primário, isto é, sem o pagamento de juros, equivalente a 4,6% do PIB. Pagou juros correspondentes a 8,1%. Incluída essa despesa, o resultado nominal foi um déficit de 3,3% do PIB. Se o superávit primário fosse igual e a conta de juros fosse cortada pela metade, o resultado seria um superávit nominal de 0,8%.

O governo teria apenas esse ganho para dividir entre a redução de impostos e a ampliação de seus investimentos. Não há solução, portanto, sem um corte de gastos e uma redistribuição dos recursos disponíveis.

Schwartsman participou ontem da reunião do Fórum Econômico Mundial em São Paulo. Apresentou seus números numa discussão sobre o medíocre desempenho econômico da América Latina, que tem crescido bem menos que os países da Ásia e da Europa Oriental. O Chile permanece como exceção.

O dado mais positivo sobre a região foi apresentado pelo economista Anoop Singh, chefe do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI). Inflação contida, contas públicas equilibradas e contas externas em ordem são hoje compromissos aceitos por todos os governos, incluído o boliviano, afirmou.

Apesar disso, as economias latino-americanas continuam vulneráveis, segundo o economista, porque a melhora das contas públicas tem resultado, em grande parte, do aumento de impostos e dos preços dos produtos básicos.

A situação do Brasil, nesse aspecto, é mais sólida e as contas públicas têm melhorado de forma satisfatória, ressalvou Anoop Singh, depois da reunião, ao responder a uma pergunta específica. Antes de participar da sessão do Fórum, ele havia estado em Brasília com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.