Título: Governo discute socorro à Varig
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

Uma das alternativas seria o BNDES fazer um ´empréstimo-ponte´ para algum grupo comprar a empresa

Com o agravemento da crise financeira da Varig, o governo federal está sendo pressionado de novo a socorrer a companhia aérea por meio de um empréstimo. Uma das idéias que circulam nos gabinetes das autoridades responsáveis é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) conceder financiamento a um investidor interessado em adquirir parte do capital da Varig. Esse tipo de operação é conhecida como 'empréstimoponte' e se assemelha ao que o BNDES fez em novembro passado com a TAP, empresa área portuguesa. Na época, a TAP adquiriu a Varig Engenharia e Manutenção (VEM) e recebeu do BNDES um empréstimo de US$ 42 milhões. A companhia portuguesa também estava interessada em comprar a VarigLog, que acabou vendida ao consórcio liderado pelo fundo americano Matlin Patterson.

O assunto está sendo conduzido, no Palácio do Planalto, pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Setores do governo têm grande preocupação com a situação da empresa aérea e o próprio presidente Luiz Inacio Lula da Silva freqüentemente manifesta a expectativa de que alguma providência deveria ser tomada para que a empresa possa se recuperar.

Nesta semana, o presidente da Varig, Marcelo Bottini, solicitou audiência a Lula para expor a situação da companhia. Na mensagem a Lula, ele afirma que a Varig corre o risco de parar 'nas próximas horas'. A Presidência da República ainda não confirmou a audiência. Na operação de venda da VEM para a TAP, a Varig usou os recursos na quitação de parte de seus débitos com as empresas multinacionais de leasing de aviões. Naquele momento, a empresa brasileira corria o risco de ter 40 aviões arrestados e o negócio deu fôlego à Varig.

Para uma saída semelhante, será preciso antes que haja um investidor considerado confiável para se associar à companhia. A recente proposta, feita pela VarigLog, de US$ 350 milhões poderia ser uma alternativa. Os credores da Varig, porém, teriam antes de aprovar a oferta, e ela foi mal recebida.

A primeira reação entre técnicos do governo que acompanham a proposta, foi de desânimo. A Casa Civil recebeu ontem uma análise da proposta da VarigLog feita por esses interlocutores. O documento considera que 'de uma maneira geral a proposta não foi bem recebida pelos credores, já que não prevê pagamento para os débitos sujeitos à recuperação judicial pela nova Varig'.

A análise técnica ressalta que há riscos de a empresa paralisar as atividades no curto prazo porque entre março e maio cai muito a receita de venda de passagens aéreas para todo o setor com a baixa temporada. Em contrapartida, continuam a existir custos fixos elevados como salários, tarifas aeroportuárias devidas à Infraero, manutenção de peças e aluguel de aeronaves e combustível fornecido pela BR Distribuidora, que está tendo de ser pago diariamente. O documento encerra com um alerta: 'Vale ressaltar que o caixa da Varig é ´bastante limitado´, o que exige uma solução mais rápida para a crise financeira em que ela está envolvida'.