Título: Brascan escolhido como novo gestor
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

Banco vai estruturar fundo e poderá alterar conselho da empresa

O Banco Brascan foi escolhido ontem gestor do Fundo de Investimento e Participação (FIP) Controle, que receberá as ações hoje em poder da Fundação Ruben Berta (FRB), controladora da Varig, e novos investidores no futuro. O gestor terá poderes, por exemplo, para modificar o conselho de administração da companhia aérea, quando o fundo estiver estruturado, provavelmente em 10 dias. Além disso, o poder de influência da FRB nos destinos da Varig praticamente será zerado.

A Varig informou que a partir da entrada do Banco Brascan na gestão do FIP Controle, o presidente executivo da Varig, Marcelo Bottini, deixará a função de gestor interino do plano de recuperação, atividade que acumulava com o cargo de comandante da companhia aérea. "Assim, Marcelo Bottini poderá trabalhar exclusivamente na gestão da VARIG e em seu plano de reestruturação", informa a nota, que confirma a Alvarez & Marsall como consultora do grupo.

O assunto causou polêmica durante o dia. Alguns credores, dentre eles o fundo de pensão Aerus e o Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), chegaram a informar que pediriam a saída antecipada de Bottini, porque ele teria falhado na implantação do projeto. "A empresa precisa de uma solução, o caixa chegou ao limite.O risco de paralisação da Varig hoje é uma realidade", disse o coordenador do TGV, Márcio Marsillac.

Na prática, isso ocorreria naturalmente em 10 dias, quando o Brascan for estruturado. Bottini explicou que sua saída já estava prevista anteriormente, por isso era gestor interino. Ele negou que haja desacordo entre a presidência executiva da Varig e o fundo de pensão Aerus.

O FIP-Controle foi projetado para receber o capital de novos investidores na empresa. Cotas desse fundo serão emitidas e dadas aos investidores, na medida do esperado ingresso do novo capital. As ações da Fundação Ruben Berta terão poder reduzido de voto e seu peso no capital deverá ser diluído no decorrer do processo. A FRB (dona hoje de 87% da Varig) ficará afastada das principais decisões a partir da estruturação do fundo. Ficou definido que a fundação terá pelo menos 5,26% da empresa capitalizada.

O modelo de controle da fundação e as brigas internas da entidade são apontados como um dos principais motivos da crise da Varig. Por força de decisão judicial em dezembro, a fundação já havia perdido poderes de decisão. Um executivo que acompanha o processo de reestruturação societária diz que isso estará sacramentado quando as ações da fundação forem integralizadas dentro da FIP-Controle.

Simplificadamente, a partir daí a fundação se tornará cotista deste fundo. O advogado Fábio Miranda Carvalho, da equipe que participou da elaboração da arquitetura financeira, explica que as cotas da fundação, classe A, terão poderes de voto restrito. A classe B abrigará ações de investidores e credores, com poderes plenos.