Título: Proposta da VarigLog é criticada
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

Falta de solução para as dívidas é o principal questionamento de credores estatais, sindicatos e fundo de pensão

Credores estatais, o fundo de pensão Aerus e sindicatos de trabalhadores da Varig não gostaram da proposta apresentada anteontem pela Varig Log para a compra da companhia aérea. De forma geral, há críticas quanto ao fato de não haver solução para as dívidas da empresa. Segundo um consultor, a proposta pode ter agregado, de primeira hora, as empresas de leasing com jatos que venham a permanecer voando na nova companhia a ser criada. 'Posso dizer que quase 100% dos que estão aqui não vão aceitar', comentou ontem, num intervalo da assembléia de credores, o representante de uma das maiores empresas com as quais a Varig têm dívidas. Ele fez, contudo, uma ressalva importante: 'Agora, eles podem melhorar a proposta. Aí, tem de ver. Não se pode descartar um investidor numa situação dessas.' Os credores ainda deverão analisar as propostas nos próximos dias.

O Aerus, maior credor privado da Varig, afirmou que não havia condições de aceitar a proposta da Varig Log, que é, por acaso, uma das empresas patrocinadoras do próprio fundo. O principal motivo é o fato de as dívidas passadas ficarem de fora do acordo, além de a proposta ter sido apresentada inicialmente fora do plano de recuperação. O presidente do fundo chegou a dizer que o Aerus ficaria 'no deserto', caso aceitasse a oferta.

Junqueira disse, ontem à noite, que havia sido convidado pela Varig Log para conversar sobre a proposta. O contato seria na noite de ontem mesmo, mas ele avisou que, qualquer que fosse a conversa, nenhuma decisão seria tomada, pois é preciso prazo para análise. Ele comentou que a maioria dos credores presentes à apresentação de anteontem não ficou satisfeita.

O diretor da Volo Brasil (controladora da Varig Log), Marco Antonio Audi, admitiu ontem ao Estado que pode haver algum ajuste na proposta.

Segundo ele, alguma coisa 'dá para se encaixar' e há possibilidade para negociar. Ele afirmou que cabe agora aos credores se manifestarem e disse que, caso haja disposição em aceitar a proposta, estão dispostos a ir, junto com a Varig, ao governo apresentar o projeto.

Questionado sobre as dívidas do grupo, ele comentou que existe a possibilidade de pagar às empresas de leasing o valor atrasado e a manutenção dos aviões que venham a ser assumidos na operação. A Varig tem frota de 71 jatos, 54 dos quais em operação. A Varig Log quer manter 48 na nova empresa, que seria criada sem o pesado endividamento anterior. Perguntado se acredita que levaria a Varig, respondeu: 'Sinceramente, espero que sim'.

Uma fonte que acompanha de perto a reestruturação assegurou que, até o momento, nenhum credor aceitou a proposta. 'Eles estão tentando negociar, melhorar a proposta', disse o executivo. Ele informa que novos contatos acontecerão e não descarta alguma 'melhora no preço'. Para o consultor de aviação Paulo Bittencourt Sampaio, a redução da frota não seria bom para as empresas de leasing.

Ele também criticou o valor da oferta, já que, segundo fontes, US$ 300 milhões dos US$ 350 milhões ofertados seriam usados em manutenção e gastos correntes da nova empresa.