Título: Varig quer moratória de 3 meses
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

Estrangulada por dívidas, companhia aérea tenta acordo com a Infraero e a BR para conseguir sobreviver

A Varig negocia com fornecedores a suspensão por 90 dias do pagamento de gastos correntes, principalmente de combustível e aluguel de aviões. O alívio mensal poderia chegar a US$ 100 milhões, dinheiro que a empresa pensa em destinar à recuperação de jatos parados e outras prioridades. Com o caixa apertado, a empresa enfrenta uma "administração de guerra" diária na escolha do que pode ser pago e o que deve ser postergado.

As informações são de uma fonte que acompanha a rotina da empresa. A Varig tem 71 aviões, mas só 54 em operação. Além de não produzirem receita, os aviões parados representam custos. A companhia vem sendo forçada a quitar antecipadamente custos operacionais como o do querosene de aviação, fornecido pela BR Distribuidora, subsidiária da Petrobrás. A cada sexta-feira, ela paga pelo combustível que usará sábado, domingo e parte da segunda-feira. O perdão temporário nas dívidas com a estatal é um dos principais pontos do pedido da empresa ao governo.

Ontem pela manhã, o presidente da empresa, Marcelo Bottini, confirmou que o caixa da Varig é "bastante limitado", mas sustentou que isso está sendo controlado e descartou o risco de paralisação da companhia "nas próximas horas", como havia descrito em e-mail enviado ao Planalto - segundo revelaram fontes ligadas à Presidência da República. "Não haverá paralisação, de maneira alguma", disse, negando que tenha enviado a mensagem ao governo. Mas confirmou as tentativas de obter "carência do não pagamento para alguns credores", sem entrar em detalhes.

Ao fundo de pensão Aerus, por exemplo, a Varig propôs, na última sexta-feira, a suspensão do pagamento de abril a outubro, retomada em novembro e compensação do período de carência, em parcelas mensais, a partir do ano que vem.

Segundo ele, a idéia geral é que credores estatais, como BR Distribuidora (combustível), a Infraero (infra-estrutura dos aeroportos) e outros fornecedores possam "viabilizar uma linha de crédito ou uma facilitação por alguns meses, com o pagamento dessa linha no segundo semestre". Ontem à tarde, executivos da Varig reuniram-se na sede da BR. A Varig compra o equivalente a R$ 75 milhões ao mês da BR, mas há meses não tem mais crédito.

Procurada, a BR informou que a eventual aprovação da proposta depende do conselho de administração da estatal. Fonte ligada à BR disse, porém, que a proposta de alongamento apresentada pela Varig não é exeqüível. A Varig informou à estatal sobre o plano de recuperação e a proposta de compra feita pela VarigLog.

A ex-subsidiária ofereceu US$ 350 milhões pela Varig. O executivo da Volo Brasil (controladora da VarigLog), Marco Antonio Audi, disse ontem que a proposta é "simples e honesta" e a empresa está disposta a "alguma negociação". De forma geral, credores não gostaram da proposta, principalmente os trabalhadores (ver pág. B4). Audi acrescentou que admite quitar dívidas relativas a aviões que permaneçam operando - caso a proposta seja aceita, a Varig Log planeja manter apenas 48 jatos voando.

Bottini participou pela manhã de assembléia de credores. Antes da reunião, reconheceu ser "extremamente necessário que haja um investimento, e isso tem de ocorrer o mais rapidamente possível". Ele acredita que a Varig poderá atrair uma capitalização, mas reconheceu que, "se o investidor não vier, a Varig precisará da ajuda do governo". Ele não comentou a proposta da VarigLog, explicando que cabe aos credores a análise.

A juíza da 8ª Vara Federal, Márcia Cunha, que cuida do processo de recuperação, considera grave a situação. "Há risco de a empresa parar de voar. Mas isso não é uma certeza. Há também a possibilidade de se recuperar." Ela se encontrará com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para verificar se há possibilidade de empréstimo à Varig. "A Justiça pode fazer muito pouco." O presidente da Varig disse que há cinco dias solicitou uma audiência com o presidente Lula.