Título: Os riscos do excesso de liquidez
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. B2

Faz alguns meses que, nos meios financeiros, anuncia-se uma crise de liquidez no mercado internacional que afetaria, especialmente, os países emergentes. Até agora não se constatou nenhuma ameaça concreta, mas, ainda anteontem, um renomado especialista do mercado internacional fazia uma séria advertência aos países emergentes, durante a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

William Rhodes, presidente do Citibank e vice-presidente do Instituto Internacional de Finanças (IIF), advertiu que pode estar se aproximando uma nova crise para os países emergentes que, aproveitando a excepcional liquidez no mercado internacional, recorrerem muito aos empréstimos.

O excesso de liquidez teve duas conseqüências: de um lado, favoreceu aumento das operações e, de outro, reduziu os spreads dos empréstimos sem que fossem levados em conta os verdadeiros riscos que as instituições financeiras estavam assumindo. Acrescentou que o mercado internacional, talvez iludido pela melhora dos fundamentos econômicos de alguns mutuários, não fez uma diferenciação entre os países emergentes.

A situação atual pode mudar de um momento para outro, segundo o banqueiro norte-americano, e especialmente nos seis países da América Latina onde este ano haverá eleições presidenciais. Certamente por participar de uma reunião do BID, não fez referência à expansão do populismo na região.

Rhodes parece convencido de que os juros nos EUA continuarão crescendo, aumentando o custo financeiro dos empréstimos dos países latino-americanos. Mas não se referiu às dificuldades que os EUA poderão ter se os países que, hoje, assumem o financiamento do seu déficit em conta corrente deixarem de fazê-lo - o que seria um novo fator de alta de juros no mercado mundial.

Até agora, apesar da anunciada mudança de humor nos meios bancários, o acesso do Brasil ao mercado financeiro internacional não sofreu nenhuma restrição. Em março, o fluxo financeiro acusou saldo positivo de US$ 2,456 bilhões, quase igual ao do mês anterior (US$ 2,815 bilhões). O resultado do movimento comercial favorável permitiu que, no primeiro trimestre, o fluxo cambial de US$ 17,6 bilhões fosse quase igual ao de todo o ano de 2005 (US$ 18,8 bilhões). Mas a excessiva dependência do saldo comercial pode ser um fator de fragilidade, o que justificaria o conselho do FMI de aumentar ainda mais as reservas internacionais.