Título: Grande salto
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. B2

A economia mundial está acelerada.

Terça-feira, o Fundo Monetário Internacional comunicou que teve de rever para cima suas projeções para o crescimento do PIB global: não será de apenas 4,3%; será de pelo menos 4,9%. Por toda parte, os analistas estão refazendo suas contas. Ontem, o principal economista do Morgan Stanley Group, o renomado Stephen Roach, escreveu sobre o "grande debate sobre o crescimento global".

Se o mundo cresce mais do que o esperado; e, mais do que isso, se a perspectiva de um resultado ainda melhor é percebida depois que o jogo começou - fica inevitável uma corrida à recomposição das condições econômicas: mais compras, estoques, investimentos, contratação de pessoal... e por aí vai. Nenhum produtor quer perder fatia de mercado para o concorrente por falta de providências.

Se esse forte crescimento mundial se confirmar, 2006 terá fechado com os dois anos anteriores o melhor triênio econômico mundial dos últimos 30 anos. Esta é uma situação surpreendente porque, desde 2003, os países ricos estão puxando os juros básicos. O Banco Central dos Estados Unidos, por exemplo, partiu de juros a 1,0% ao ano em 2004 e já está nos 4,75% ao ano, devendo puxar mais um quarto de ponto para 5,0% ao ano na reunião do dia 10 de maio. O Banco Central Europeu, que em junho de 2003 operava com juros de 2,0% ao ano, agora trabalha com 2,75%. Ora, qualquer principiante de economia sabe que juros mais altos deveriam reduzir o ritmo da atividade econômica. Mas está acontecendo o contrário. Por quê?

Uma das explicações para isso é a de que há alguns anos o carroção mundial era puxado por um só cavalo, o dos Estados Unidos. Agora, o Japão aponta para um crescimento econômico da ordem de 5% e a China, para 9,9%. Das grandes potências, apenas a Europa segue tartarugando ao redor dos 2%.

A outra explicação é a de que o largo emprego de Tecnologia da Informação está elevando a produtividade nos países industrializados e isso permite crescimento maior com emprego de menos fatores de produção.

Na economia brasileira deve acontecer algo parecido. Até agora, os empresários limitaram-se a lamentar a paradeira da economia. De uma hora para outra, acumulam-se informações de que o crescimento do PIB brasileiro neste ano poderá chegar perto dos 5%.

A partir daí começa a correria para não perder esse trem e não deixar espaço para o concorrente. As reclamações sobre os juros escorchantes ou o câmbio desfavorável tendem a perder intensidade.

O melhor de tudo isso é que a economia está mais previsível. A recuperação do consumo é consistente e mais confiável; os juros têm tudo para continuar em queda; do exterior não se esperam grandes solavancos; apesar das lambanças na política, o risco de fuga de capitais é mínimo; o País está menos vulnerável a crises de liquidez.

A única ameaça pela frente é política. O PT deverá perder entre 30% e 50% das cadeiras no Congresso. Se o presidente Lula conseguir reeleger-se, com que apoio governará?