Título: Sindicatos franceses dão ultimato
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Internacional, p. A15

Eles exigiram ontem a retirada do Contrato do Primeiro Emprego até dia 17 e ameaçaram com novos protestos

Sindicatos e estudantes franceses deram ontem um ultimato ao governo francês para que retire a lei que cria o polêmico Contrato Primeiro Emprego (CPE) - que reduz direitos trabalhistas por dois anos para estimular as empresas a contratarem jovens menores de 26 anos. Se o Parlamento não retirar a lei em 12 dias,virão novas greves e manifestações.

Um dia depois de 1 milhão de pessoas saírem às ruas da França para pedir o fim da lei trabalhista, os sindicatos decidiram endurecer o tom. No primeiro dia de negociações com o governo, as 12 principais entidades que agrupam os trabalhadores e estudantes entregaram uma declaração conjunta pedindo que o Parlamento vote a retirada dessa lei até 17 de abril, isto é, logo após o fim do recesso da Semana Santa.

"O objetivo das organizações sindicais não é negociar os pontos do CPE, mas obter sua retirada", indicou o texto, destacando que se a exigência não for atendida, os manifestantes estão dispostos a organizar novas mobilizações "sem descartar a adoção de nenhum tipo de ação". Os críticos dizem que o CPE torna mais fácil para o empregador demitir os jovens funcionários. Também dizem que a lei mina a tradicional proteção trabalhista. O governo argumenta que a lei é necessária para reduzir o alto índice de desemprego entre os jovens - cerca de 25%.

Após dois meses de intensas manifestações, o governo fez uma série de concessões e pediu aos empregadores que não usem o contrato até que todas as emendas sejam feitas. Na sexta-feira, o presidente francês, Jacques Chirac, prometeu reduzir o prazo segundo o qual os jovens trabalhadores podem ser demitidos - de dois anos para um - e disse que os empregadores devem explicar a razão da demissão. Os sindicatos, no entanto, disseram que as emendas são inaceitáveis. O CPE, apesar de já ter sido promulgado por lei, está suspenso.

O Partido Socialista (PS), principal força de oposição, também pediu ontem a retirada da lei. "É possível encerrar este conflito votando um projeto de lei antes de 17 de abril", declarou o líder socialista François Hollande.

Ontem, Chirac pediu aos sindicatos e funcionários do governo que mostrem um espírito público. "Cada um deve assumir sua parcela de responsabilidade para que as discussões sejam construtivas", disse. O presidente também pediu aos estudantes que voltem às aulas e terminem seu ano letivo.

O CPE, promovido pelo primeiro-ministro Dominique de Villepin, provocou uma inesperada crise política a um ano das eleições presidenciais. Villepin, cuja aprovação caiu para apenas 28% - menos 14 pontos em relação a fevereiro -, foi discretamente afastado das negociações.

Os adversários políticos de Villepin acham que a crise poderá pôr fim às suas aspirações presidenciais. Nesse contexto, seu grande rival dentro da União por um Movimento Popular, o partido conservador no poder, Nicolas Sarkozy, está se aproveitando da situação e se autoproclamou artífice do diálogo nacional na esperança de obter uma maior popularidade.