Título: Câmara livra João Paulo de cassação por mensalão
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Nacional, p. A6

Petista é o oitavo envolvido no esquema do valerioduto absolvido; deputada Ângela Guadagnin evita comemorar com dança da pizza

A Câmara dos Deputados promoveu ontem a oitava absolvição entre os 19 acusados de envolvimento no esquema do mensalão. O ex-presidente da Casa João Paulo Cunha (PT-SP), que confessou ter recebido R$ 50 mil do esquema montado pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares e pelo empresário Marcos Valério, manteve o mandato ao fim da votação pelo plenário de seu processo de cassação. Votaram 483 deputados, 256 deles a favor de João Paulo, 209 pela cassação, 9 abstenções, 7 votos em branco e 2 nulos. Até agora, só três parlamentares foram cassados. Outros quatro renunciaram para fugir do processo.

"Sei que os jornais vão continuar me chamando de mensaleiro pelo resto da vida", lamentou João Paulo, em seu discurso.

Foi a terceira maior presença de parlamentares nas sessões de julgamento dos acusados de terem se beneficiado do mensalão. A que cassou o mandato do ex-ministro José Dirceu (PT-SP) teve 495 presentes; a que também tirou o mandato de Roberto Jefferson (PTB-RJ), 489.

Além de João Paulo, livraram-se da cassação até agora os deputados João Magno (PT-MG), Wanderval Santos (PL-SP), Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Sandro Mabel (PL-GO), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Pedro Henry (PP-MT). Renunciaram ao mandato para fugir do processo os ex-deputados Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (sem partido-RJ), José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA).

Além de Dirceu e Jefferson, só o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), perdeu o mandato. E hoje já se sabe que muitos parlamentares de seu partido descarregaram o voto na cassação porque estavam ansiosos por se livrar de seu presidente.

Desta vez, a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) não ensaiou os passos da dança da pizza, como fez na madrugada do dia 23, para comemorar a absolvição do deputado João Magno (PT-MG), que confessou ter recebido R$ 425,95 mil das contas de Valério. Ela nem esperou o encerramento da votação. Mas deu um palpite logo depois de João Paulo terminar seu discurso de defesa: "Foi uma defesa honesta, clara, transparente, de uma pessoa que não deve."

O deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), relator do processo de cassação de João Paulo, foi, como no Conselho de Ética, mais uma vez arrasador em seu parecer. Mas poucos o ouviram. Quando subiu à tribuna, menos de 30 deputados estavam presentes. Ele disse que em sua acusação não fez avaliações subjetivas. Tratou de fatos comprovados. "É um parecer, não um panfleto. Baseia-se fundamentalmente no depoimento do senhor João Paulo Cunha e nos documentos da defesa, que, por mais incrível que possa parecer, foram determinantes no convencimento do relator quanto à culpabilidade."

Schirmer centrou a acusação em três pontos: o saque de R$ 50 mil de uma conta de Marcos Valério feito por Márcia Milanesi Cunha, mulher de João Paulo, no Banco Rural, em 4 de setembro de 2003, às 16h58min, já fora do horário bancário; omissão de informações a respeito da retirada do dinheiro; e a contratação pela Câmara, na gestão de João Paulo, da empresa SMPB, contrato marcado por acusações de irregularidades.