Título: Atuação independente de Delcídio põe PT à beira de um ataque de nervos
Autor: Gilse Guedes, Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2006, Nacional, p. A5

Eleito presidente da CPI dos Correios com vantagem de apenas um voto, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) passou de homem do governo na comissão a parlamentar independente. E diversas vezes irritou os companheiros de partido. O auge da revolta dos petistas aconteceu ontem, quando o senador conduziu a votação que aprovou o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) sem dar ouvidos à grita dos governistas.

O mais indignado, deputado Jorge Bittar (PT-RJ), dedo em riste, xingou Delcídio com um palavrão: "F.D.P!" Não fosse a interferência de parlamentares como a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e o deputado Pompeu de Mattos (PDT-RS), Bittar teria dado um soco no colega.

Delcídio prometeu entrar com representação no Conselho de Ética da Câmara contra Bittar: "Ele me chamou de F.D.P., vou ao conselho. Eu cumpri o regimento. Venceu o relatório do Osmar Serraglio. O PT apresentou um relatório paralelo e, quando viu que perderia, quis apresentar destaque. Não pode."

A rápida votação do relatório final da CPI fez lembrar a época dos depoimentos bombásticos, como os do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) e do ex-marqueteiro do PT Duda Mendonça: plenário lotado, ansiedade e clima de guerra entre governistas e oposicionistas. A diferença foi que, enquanto os depoimentos avançavam madrugada adentro, a última reunião da CPI levou menos de meia hora.

Diante da insistência dos petistas em protestar contra o que consideraram rolo compressor do presidente da CPI, oposicionistas pediam pressa. "Vamos votar, vamos votar", insistia o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

No meio do falatório generalizado, os primeiros aplausos foram para o vice-presidente da CPI, deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA). Os oposicionistas não tinham certeza sobre o voto de Bentes e vibraram quando ele deu o sim ao relatório de Serraglio. Palmas também ecoaram para os deputados da base governista Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e Luiz Antonio Medeiros (PL-SP), ao declararem voto a favor do parecer do relator.