Título: Juro pagaria 6,7 milhões de casas
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,4

Estudo da Fecomércio compara valor de R$ 267,3 bilhões pago pelo governo, empresas e famílias em 2005

O total de juros pagos pelo governo, empresas e famílias em 2005 (R$ 267,3 bilhões) seria suficiente para construir 6,7 milhões de moradias populares. Além disso, o montante representou 90% da renda agregada de todas as famílias do Estado de São Paulo, segundo levantamento da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio).

Hoje, a taxa nominal de juros básicos da economia (Selic) está em 16,5% ao ano, e deve recuar para 15,75% na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom). Para muitos economistas, há espaço para um corte mais agressivo do que os já feitos pelo Copom desde setembro, quando terminou o ciclo de aperto monetário adotado para conter o avanço da inflação.

Segundo a Fecomércio, cada ponto porcentual de queda da Selic representa cerca de R$ 10 bilhões. Ou seja, se os juros nominais tivessem ficado apenas 2 pontos porcentuais menores em 2005, o governo poderia ter aumentado em 90% seus investimentos ou dobrado a verba destinada ao Bolsa Família, de R$ 8,3 bilhões, conclui o estudo.

Outro dado negativo é o atual nível do juro real brasileiro (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses), o maior do mundo. Segundo dados da consultoria GRC Visão, o juro real brasileiro está em 11,6% ao ano, bem maior que os 7% de Cingapura e 5,2% da Turquia, 2º e 3º lugares no ranking, respectivamente.

O Brasil também está distante da média geral dos 40 países pesquisados, que é de 1,5% ao ano. De acordo com a consultoria econômica, mesmo com as reduções previstas pelo mercado neste ano dificilmente o Brasil deixará a liderança dos maiores juros reais.

"Não vamos nos livrar tão cedo do título de maior taxa do mundo. Podemos ter uma Selic menor, mas ainda assim será alta comparada aos demais países", diz o ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega.

Na avaliação do diretor-executivo do Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, o resultado de juros altos aliados à má gestão do setor público é a elevada carga tributária brasileira. Dois grandes empecilhos ao desenvolvimento do País, à geração de renda e ao emprego.

Fatores que influem de forma expressiva no aumento da informalidade e da pirataria, diz o presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), Emerson Kapaz. Ele lembra ainda que os juros altos são uma forma de o governo rolar sua dívida. Com a taxa bem acima dos demais países, o Brasil se torna mais atraente aos olhos do investidor do mercado financeiro, que tem buscado nos emergentes um diferencial de rentabilidade.

Mas na opinião do diretor titular do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, os juros brasileiros não estão sendo tratados de forma correta. "Hoje a taxa é absurda e exagerada."