Título: Mentor corre risco de novo processo de cassação
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2006, Nacional, p. A5

O deputado José Mentor (PT-SP), que escapou da cassação no último dia 19, corre o risco de enfrentar um novo processo no Conselho de Ética. Desta vez, a acusação é que ele teria recebido R$ 300 mil para excluir o nome de um doleiro do texto final da CPI do Banestado, da qual havia sido relator.

O corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), considerou "gravíssima" a acusação e decidiu investigá-la. "Um deputado que cobra propina é caso de cassação", adiantou ele. A denúncia foi feita ao Ministério Público pelo doleiro Richard Andrew de Mol van Otterloo.

O clima na Câmara, ontem, era de indignação contra a revelação de Otterloo. A representação do Ministério Público chegou à Casa no momento em que a cassação era votada, na quarta passada. Se fosse hoje, muitos se posicionariam contra a absolvição. "Sem dúvida, se tivesse mandado antes do julgamento, teria mudado a votação", disse o presidente do conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP). O relator do pedido de cassação, deputado Nelson Trad (PMDB-MS), declarou que os deputados, que se escondem no voto secreto no julgamento do plenário, deveriam começar a perceber que o conselho tem feito trabalho correto.

"Isso mostra que o plenário decidiu errado. O deputado José Mentor acaba de ser absolvido, mas terá de se explicar novamente", continuou Trad. O deputado Edmar Moreira (PFL-MG), que pediu o arquivamento do processo de cassação de Mentor, considerou que a opinião do plenário seria outra se a nova acusação tivesse sido conhecida antes do julgamento.

Moreira disse, porém, que não mudaria o parecer que elaborou, que acabou rejeitado no conselho, pois a acusação que investigou referia-se à suposta participação de Mentor no mensalão. "Se a notícia tivesse vazado antes, poderia interferir no juízo acerca do comportamento do deputado. Poderia funcionar como agravante." Ontem, Mentor só não foi notificado da investigação pela Corregedoria porque não foi encontrado.

O placar da votação na sessão que absolveu o petista registrou 241 votos pela perda do mandato, 165 pela absolvição, 8 abstenções, 6 em branco e 2 nulos, não atingindo o número mínimo de 257 pela cassação.