Título: CPI perde fôlego e Mattoso deve escapar de depoimento
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2006, Nacional, p. A7

A CPI dos Bingos perdeu fôlego e ontem seu presidente, senador Efraim Morais (PFL-PB), admitiu que dificilmente conseguirá aprovar a convocação do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso para esclarecer a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo.

No começo da tarde, ele teve de suspender a sessão da CPI por falta de quórum. E num sinal de que não espera muito mais da comissão, Efraim anunciou que vai pôr em votação na semana que vem todos os requerimentos polêmicos, mesmo que isso signifique a derrota da oposição. "A CPI já concluiu 90% de seu trabalho", resumiu. O relatório final deve ser entregue até o início de junho.

"Temos a história dele (Mattoso) na palma da mão. Temos o depoimento na Polícia Federal, que estará no relatório final da CPI. Ou seja: não é preciso ouvi-lo novamente", disse Efraim. Mattoso, de fato, já depôs à CPI, mas sobre a renovação de contratos da Caixa com a multinacional de jogos Gtech. "É só juntar os dois depoimentos. O que ele já deu à CPI e o da PF." Além do caso de Mattoso, estão à espera de votação os pedidos de convocação de dois integrantes do Ministério da Justiça que estiveram com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no dia da violação da conta do caseiro: Cláudio Alencar, chefe de gabinete, e Daniel Goldberg, secretário de Direito Econômico.

Efraim avisou que vai pôr de novo em votação a quebra de sigilo do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, que foi caixa de campanhas do PT e é amigo do presidente Lula. "Não queremos o sigilo do Okamotto para divulgar ou buscar holofotes. Agora, se o governo busca proteger pessoas, significa que há medo dessa quebra de sigilo."

A CPI já aprovou duas vezes a quebra de sigilo, mas o presidente do Sebrae conseguiu liminares do Supremo Tribunal Federal (STF) para impedi-la. Okamotto afirma ter pago com recursos próprios uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT. Mas há a suspeita na CPI de que o dinheiro teria outra origem, o que poderia vincular o presidente ao uso de caixa 2.

SUBSTITUIÇÃO

Na reta final da CPI, os governistas manobram para tentar substituir seu vice-presidente, Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). "O senador Mozarildo está sendo pressionado pelo partido para não vir à CPI", disse ontem Romeu Tuma (PFL-SP).

Caso consiga substitui-lo, o Planalto passará a ter maioria na CPI e poderá, assim, evitar a quebra do sigilo de Okamotto e a convocação de Mattoso. Nessa caso, também tenderá a ser arquivado requerimento de Antero Paes de Barros (PSDB-MT) com 8 perguntas a serem respondidas por Lula sobre as circunstâncias em que soube da participação de autoridades na violação da conta de Nildo.

Há obstáculos para tirar Mozarildo. Líder do PTB no Senado, ele só pode ser substituído se concordar. Outro caminho seria afastá-lo da liderança do partido e fazer o novo líder designar para a CPI um senador mais alinhado com o Planalto.