Título: MP quer que PF investigue doações a Garotinho
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2006, Nacional, p. A9

O Ministério Público Federal requereu ontem à Polícia Federal a abertura de inquérito para investigar a suspeita de que parte do dinheiro que pagou a campanha do pré-candidato do PMDB à Presidência, Anthony Garotinho, nas prévias do partido teria sido "doada" por empresas de fachada.

A Procuradoria da República no Rio enviou ontem ofício à PF requisitando a investigação de crime de falsidade ideológica diante das suspeitas de que três das quatro empresas doadoras dos R$ 650 mil não funcionam nos imóveis que apontaram como sedes. Além disso, a quarta empresa foi fundada por um condenado por assalto que está preso. Garotinho disse apoiar a investigação. "Eu acho bom. Tudo aquilo que vier para esclarecer a verdade deve ser feito. Quem não deve não teme", afirmou, em declaração distribuída por sua assessoria.

À PF, foi pedido que se apurassem só sinais de falsidade ideológica a partir de levantamentos em cartório, mas outros delitos poderão ser investigados. O foco inicial serão as doadoras: Virtual Line Projetos e Consultoria de Informática Ltda., Teldata Telecomunicações e Sistema Ltda., Inconsul Informática e Consultoria de Projetos Ltda. e Emprin Empresa de Projetos de Informática Ltda. O Estado apurou que a procuradoria quer atuar com cautela, para evitar ser acusada de ação política.

As contas foram divulgadas no site www.anthonygarotinho.com.br. Indicam que a Virtual Line, única localizada, doou R$ 50 mil. Não foram achadas a Teldata, oficialmente sediada no Recife (PE), que doou R$ 250 mil; a Inconsul, de Rio Bonito (RJ), que deu R$ R$ 150 mil, e a Emprin, com "sede" no mesmo município, doadora de R$ 200 mil. Rio Bonito é conhecido como "paraíso fiscal", pois cobra menos Imposto sobre Serviços (ISS). Abriga empresas que não têm atividade na cidade, onde só recolhem o tributo.

O Estado tentou contato com Luiz Antonio Motta Roncoli, mas ele não estava no endereço. Ele é acionista da Virtual Line, que comprou de José Onésio Rodrigues Ferreira, preso na Penitenciária de Bangu. É possível que ele e outras pessoas que figuram como donas das empresas sejam convocados pela PF.

O secretário-adjunto do PMDB, Carlos Alberto Muniz, afirmou que a abertura da investigação é boa para o partido. "Só vai contribuir para a transparência." Presidente da comissão que cuidou das doações, ele afirmou que só foram aceitos recursos de empresas que fizeram depósitos em cheque numa conta aberta para esse fim, com número do CNPJ e comprovante do depósito. Reconheceu, porém, não saber quem captou as doações.