Título: O cargo, após concurso público
Autor: Fábio Mazzitelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Metrópole, p. C1,3,4

Com a intenção de conhecer a Febem por dentro, prestei concurso público em maio de 2005. Aprovado em todas as fases, fui chamado a trabalhar como agente educacional em janeiro.

Antes de iniciar o trabalho, passei por uma semana de treinamento, na qual fui ouvinte de palestras dos diversos setores administrativos da instituição, da Diretoria de Cultura à Gerência de Recursos Humanos, e participei de dinâmicas de grupo peculiares, uma delas comandada por uma pastora de igreja evangélica que trabalha com os internos.

O treinamento terminou sem que eu tivesse a menor idéia da dinâmica de uma unidade.

Entre os quatro grandes complexos da região metropolitana de São Paulo onde havia vagas, escolhi trabalhar no Tatuapé.

Cheguei em 23 de janeiro para trabalhar na UI-9. Somente nesse dia descobri a unidade em que eu trabalharia. Por ser jornalista, desde o início tive de conviver com perguntas sobre a minha profissão e minhas intenções como agente educacional.

"Você está aqui para fazer uma reportagem?", questionou um psicólogo da UI-9.

Com o passar do tempo, senti que a desconfiança sobre mim aumentava. Na última semana de trabalho, aparentemente incomodado, o diretor da unidade fez observações sobre minha prática diária de anotações em uma caderneta pessoal. "Pode anotar isso que estou falando que sei que você está sempre anotando tudo", disse ele, em tom irônico.

Fui desligado oficialmente da Febem em 1.º de março, quando terminou meu contrato de experiência de 45 dias e a direção da UI-9 não quis renová-lo, sem muitas explicações.

Foram 32 dias de trabalho no Complexo do Tatuapé.