Título: Lula tenta evitar quebra da Varig
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Economia & Negócios, p. B12

Moratória é bem vista em alguns setores do governo, que temem impacto do desemprego em ano eleitoral

O governo avalia até com certa simpatia a possibilidade de conceder, por um prazo de até seis meses, a moratória pedida pela Varig. A idéia é suspender as cobranças das dívidas da empresa com a Infraero, estatal que administra os aeroportos, e a BR Distribuidora, que fornece combustível para aviões.

É certo que não há unanimidade na administração federal a respeito da proposta. Alguns integrantes do primeiro escalão advertem que o governo pode ser acusado de descumprir a lei e sofrer ações do Ministério Público. Também temem que outras companhias aéreas passem a exigir o mesmo tratamento dispensado à Varig.

Pesa a favor da moratória o receio das conseqüências políticas do fechamento de uma empresa que emprega 11 mil funcionários. Empenhado em conquistar a reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se apresentar na campanha como um lutador incansável pela criação de postos de trabalho. Também assusta a provável repercussão negativa do cancelamento das mais 20 mil passagens expedidas pela Varig para brasileiros que pretendem assistir aos jogos da Copa do Mundo da Alemanha, em junho.

A proposta de moratória foi apresentada pela Varig ao ministro da Defesa, Waldir Pires, na sexta-feira. No dia anterior, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, encarregada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de cuidar do problema, se reuniu com representantes da Varig e com seus principais credores no Palácio do Planalto. Nessa ocasião, chegou-se à conclusão de que o melhor seria ou a própria empresa pedir falência ou algum de seus credores apresentar o pedido. Ainda assim, o governo enfrentaria sérios problemas políticos, acusado de deixar 11 mil funcionários desempregados e uma marca tradicional desaparecer.

Nesta semana, o presidente Lula deve receber um estudo detalhado da situação da empresa. A própria ministra Dilma disse que a expectativa é de que, até o início da semana que vem, seja concluída uma avaliação minuciosa, para que se saiba quais os próximos passos a serem dados. Essas informações incluem o balanço completo das dívidas e a situação de pagamentos para cada uma das estatais. Só à Infraero a Varig está deixando de pagar, diariamente, R$ 900 mil referentes aos pousos e decolagens em todo o País.

Autoridades ligadas ao setor de aviação civil advertem que mesmo que o governo conceda moratória à Varig, isso não vai resolver o problema da companhia. "A situação é irreversível. Ela não tem saída", comentou uma fonte do setor, ao informar que, além de suportar uma dívida global de R$ 8 bilhões, a Varig vem perdendo 1% do mercado ao dia e já está com 25 aviões parados. Cada um desses aviões, para voltar a voar, precisa de de investimentos de US$ 1,5 milhão, no mínimo, por aparelho, isso se não houver problemas no motor. O governo sabe que se a Variga parar, não conseguirá mais sair do chão.