Título: Prefeito já sonha com uma usina siderúrgica
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Economia & Negócios, p. B10

Ele reclama dos problemas ambientais e diz que o ideal seria processar o minério na cidade

O prefeito de Jurucutu,Júnior Queiroz (PMDB), não está satisfeito. Sente-se enganado. Ele reconhece que muitos investimentos foram feitos e não sabe o que seria da cidade não fosse a instalação das empresas. Mais de 80% da receita do município vem do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), a prefeitura emprega 500 funcionários e os aposentados ajudam a movimentar a economia, que está aquecendo. "Em encontros de prefeitos, meus colegas ficam dizendo que estou nadando em dinheiro, que Jucurutu ficou rico. Que nada!", reage, inconformado porque do imposto sobre mineral de ferro, o Cefem, 2% do valor do produto são destinados à União, Estado e município. O município arrebanha 65% destes 2%. "Isso quer dizer que de cada 772 toneladas, Jucurutu fica com 65% de R$ 703,19, o que não é nada."

"Para a expectativa criada pela Mhag houve uma decepção", disse, com a anuência de Moacir de Souza Araújo, 72 anos, morador da Mutamba. "Diziam que todo mundo ia ter emprego, que tudo ia ser muito bom", observou o aposentado, que desconfia das intenções da mineradora. "Eles têm umas reuniões secretas, que ninguém sabe do que se trata."

Em Jucurutu, é difícil encontrar alguém que não tenha um parente ou conhecido que não trabalhe na mina. Carlito Januário da Silva, 40 anos, pesca na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, construída no Rio Piranhas. Queixoso porque não conseguiu emprego, acabou revelando que 3 dos seus 8 irmãos e um cunhado estão contratados. "Estão levando embora nosso minério, que não é renovável", frisa Queiroz. "E depois, vamos ficar com que?" Para ele, o ideal é que Jucurutu tivesse uma siderúrgica. O prefeito se queixa de ainda não ter recolhido impostos provenientes do empreendimento.

Como pontos negativos da presença da mineradora, a prefeitura aponta a poeira que atinge algumas casas na beira da estrada construída pela Mhag.

A atividade de mineração de ferro foi motivo de ação impetrada pelo Ministério Público Federal do Estado, acatada em parte pela justiça federal, que exigiu um estudo de impacto ambiental em relação a todas as áreas que o empreendimento abrange - não só no Rio Grande do Norte, mas na Paraíba e Pernambuco - por onde o produto trafega antes de ir para a China.