Título: Setor já tem mais de 70% dos empregos em SP
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

De 1995 a 2005, o emprego em serviços cresceu 28%, para 6,492 milhões de pessoas

O setor de serviços, que respondia por metade da força de trabalho em 1970 na Grande São Paulo, coração industrial do País, já representa mais de 70% do pessoal ocupado na região e caminha para o nível dos 80% até 2010, conforme projeções do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Este avanço ocorre em paralelo à queda do peso do emprego industrial, que deverá passar de 42% a 17% nestes 40 anos.

A evolução paulistana reflete bem o que ocorre nas grandes cidades do País. O trabalho do Ipea mostra que, de forma geral, a indústria está se deslocando dos grandes centros urbanos para a periferia e, depois, em direção a cidades menores, diz o economista Daniel da Mata, um dos autores do trabalho junto com pesquisadores do Banco Mundial e da Brown University. Enquanto isso, aumenta a oferta e a especialização no setor terciário (serviços) nas cidades maiores.

Estimativas da Fundação Seade comprovam o movimento e mostram que o avanço dos serviços não representa, necessariamente, precarização da mão-de-obra. Entre 1995 e 2005, o emprego no setor de serviços, incluindo o comércio e trabalhos domésticos, cresceu 28%, para 6,492 milhões de pessoas. Quase dois terços (63%) das novas vagas têm carteira assinada. Já o pessoal ocupado na indústria encolheu 6,5%, para 1,627 milhão de pessoas.

Nessa década, houve expressivo crescimento de pessoal no setor de serviços especializados (47%), pessoais (93%), auxiliares (140%), comunitários (66%), saúde (31%), oficinas de reparação mecânica (30%), reformas e conserto de edificações (30%).

Em São Paulo, portanto, cai a presença das fábricas e aumenta a dos escritórios. Para o economista do Seade, Vagner Bessa, contudo, predomina na região metropolitana paulista o trabalho em empresas de maior porte e com maior nível de qualificação. Ele explica que cresceram tanto os serviços prestados às empresas (jurídico, financeiro, gestão, consultoria) como os pessoais, voltados à classe média.

De fato, houve uma desconcentração industrial, mas São Paulo manteve e continua atraindo sedes de empresas que estavam em outras regiões do País. A sede executiva da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, foi transferida da Torre do Rio Sul, no Rio, para o Faria Lima Financial Center. A diretoria da Aracruz, que tem planta industrial no Espírito Santo e ficava baseada no Rio, também foi, há cerca de um ano, para São Paulo.

Segundo o pesquisador do Ipea, as indústrias vão para as pequenas cidades em busca de custos menores, salários mais baixos e aluguéis mais baratos. Isso deverá fazer com que o peso do emprego industrial nas pequenas cidades, que era de 19% em 1970, chegue a 26% até 2010.

Outro motivo do avanço dos serviços em São Paulo é a forte onda de terceirização na indústria e os investimentos em produtividade desde a década passada.

O cientista político e secretário de Trabalho do município, Gilmar Viana Conceição, afirma que São Paulo, "como todo o Brasil, teve industrialização tardia e desconcentração industrial precoce". Ele lembra que o crescimento econômico e demográfico paulista se deu a partir de uma base industrial.

"E agora? O que se faz com essa massa de pessoas que veio atraída pela indústria, que hoje não existe mais como antes?", questiona Conceição, citando a necessidade de identificar vetores de crescimento e expansão de serviços potenciais, além da elaboração de políticas de médio e longo prazos.