Título: Cada vez mais vagas com carteira assinada
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

As cariocas Sâmera Adães, 21 anos, e Dulciléa de Mello, 41 anos, têm histórias parecidas no mercado de trabalho. Sem emprego, encontraram em atividades informais uma maneira para levantar algum dinheiro. Isso até conseguirem o emprego com carteira assinada, ambas no setor de serviços. Elas não se conhecem. E, sem saber, engrossaram as estatísticas oficiais que mostram que o setor, onde tradicionalmente a informalidade predomina, foi o principal responsável pela criação de vagas formais em 2005.

Dados do Ministério do Trabalho mostram que o setor de serviços respondeu por quase metade (45,4%) de toda a criação de empregos formais do País no ano passado, à frente do comércio (31,1%) e indústria (15%). O quadro foi o oposto de 2004, quando a indústria havia crescido muito e liderou a criação de trabalho formal: foi responsável por mais de um terço do total (34%), à frente dos serviços (30%), explica o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Ávila.

Dos 1,254 milhão de novos postos formais criados em 2005, 569,7 mil foram no setor de serviços. Levantamento do Ministério do Trabalho, feito a pedido do Estado, mostra que algumas das ocupações que mais criaram emprego no ano passado foram operadores de comércio (140,8 mil), escriturários e auxiliares administrativos (127,3 mil), serviços de manutenção (104,2 mil), alimentadores de linhas de produção (60,4 mil), ajudantes em obras (57,2 mil) e operadores de telemarketing (43,4 mil).

A Atento, uma das maiores empresas do setor de telemarketing, contratou só no ano passado 10 mil operadores, sendo 9 mil como primeiro emprego. Sâmera foi uma delas. Ela entrou em novembro. No sétimo período de Relações Internacionais, conta que o salário ajuda a pagar os estudos, que custam R$ 780 ao mês. Antes, vendendo bijuterias, ganhava no máximo R$ 220 mensais.

O artesanato também garantia a sobrevivência de Dulciléa, operadora de telemarketing da TeleSoluções. Ela precisou voltar ao trabalho depois que se separou do marido, aos 40 anos. Conta que encontrou alguma dificuldade, por causa da idade. Trabalhou em confecção de bijuterias, fazia bolos e comida para fora, até a decisão de disputar a vaga de operadora, que não impunha limites de idade.

"O importante é ter a voz sorrindo", filosofa a operadora, que hoje tem salário de R$ 700 ao mês no emprego formal, valor que varia conforme as metas são atingidas.

Dulciléa e Sâmera gostam do vínculo empregatício e dos benefícios, como plano de saúde e auxílio-alimentação. "O setor está crescendo", diz a sócia da TeleSoluções, Waldeléa Nogueira. A empresa é especializada em telemarketing ativo (vendas). O total de empregados subiu de 2 mil para 2,5 mil nos últimos 12 meses. Fábio Salomão, economista da LCA Consultores, explica que em 2004 a formalização começou a partir do emprego industrial, principalmente com o desempenho das empresas exportadoras. Em 2005, o câmbio valorizado abalou setores como o calçadista, mobília e madeira. "Antes, a expansão do emprego estava apoiada na indústria, mas agora migrou para os serviços."